A Universidade de Évora atribuiu na quarta-feira, dia 19, o título de Doutor Honoris Causa a Eduardo Marçal Grilo, ex-ministro da Educação. Durante a cerimónia, que decorreu na Sala dos Actos da academia eborense, Eduardo Marçal Grilo enfatizou a importância da educação e a necessidade de repensar os sistemas educativos. Deixou uma mensagem de estímulo aos estudantes e reconheceu o trabalho desenvolvido pela Universidade de Évora em prol do desenvolvimento da região e do País.
Os discursos laudatórios ficaram a cargo de Maria de Fátima Nunes, professora do Departamento de História da Universidade de Évora, e de Júlio Pedrosa, professor universitário Jubilado que ocupou o cargo de ministro da Educação no XIV Governo Constitucional de 3 de Julho de 2001 a 6 de Abril de 2002. Ambos sublinharam o percurso assinalável do homenageado e a importância que desempenha e continua a desempenhar na área da educação e dos sistemas educativos.
Hermínia Vasconcelos Vilar, Reitora da Universidade de Évora, recordou na sua intervenção o percurso do antigo governante, que continua atento à realidade do País, sendo «um cidadão activo, responsável e interventivo. O dever de cidadania de alguém que não se limitou e que não se limita a olhar para o tempo que passa, mas que nele interveio e continua a intervir das mais diversas maneiras, partilhando connosco, leitores, as suas reflexões e o seu saber».
Para a Reitora, «conferir um doutoramento honoris causa é, com efeito, reconhecer um percurso, mas também realçar um exemplo. Marçal Grilo é, sem dúvida, um exemplo», até porque, na sua opinião, «nunca é demais relembrar a importância da educação como instrumento de mobilidade social no Portugal pós-1974, bem como o caminho de sucesso percorrido nesta área».
Eduardo Marçal Grilo deixou, na sua intervenção, várias reflexões sobre o sistema de ensino nacional, como a falta de professores ou a aposta na sua formação, um assunto que «exige a adoção de medidas urgentes», considerou, e em que as universidades, referiu, «desempenham um papel importante».
Recordando o percurso histórico da Universidade de Évora, desde a sua fundação em 1559, passando pela expulsão dos Jesuítas (1759), até ao processo de refundação no final do século XX, Eduardo Marçal Grilo reconheceu que a Universidade de Évora «dá a garantia de que podemos ter um País e região mais modernos, e que soube encontrar a sua missão e consolidar a sua posição no panorama nacional». «A Universidade de Évora tem todas as condições para desempenhar um papel importante para o desenvolvimento do nosso país», afirmou, demonstrando a sua disponibilidade para colaborar com a instituição.
Para Eduardo Marçal Grilo, as universidades «desempenham um papel insubstituível, pelo que não podemos transformá-las num sistema meramente económico. Cabe às universidades o pensamento, a reflexão e a perspetivação do desenvolvimento, sem enviesamentos, e assentes na liberdade académica, com autonomia, mas, naturalmente, prestando contas e colaborando entre si, seja ao nível nacional, seja ao nível internacional».
«Vivemos num mundo muito complexo, onde tudo parece estar à distância de um clique, as tecnologias dão-nos a sensação de que temos toda a informação do mundo – na verdade, está mais errado do que nunca», Eduardo Marçal Grilo admitiu que a nossa sociedade apresenta «hábitos de leitura muito baixos e um debate público muito pobre». Cabe também às universidades «incentivar a leitura e tornar os estudantes melhores leitores».
Centrando o discurso nos estudantes, que são «aqueles que têm o futuro à sua frente», afirmou que eles são «confrontados com várias ameaças, mas também se lhes deparam oportunidades únicas que não podem desacreditar (…) Aproveitem as oportunidades, nunca desistam, ganhem confiança no mundo, sejam ambiciosos e exigentes convosco e com os outros, porque com trabalho, dedicação e esforço, e muitas vezes com sacrifício, tudo é possível e o futuro espera por vós».
Em declarações aos jornalistas, Eduardo Marçal Grilo alertou que «o interior precisa de conhecimento, precisa de gente qualificada, precisa de empregos qualificados e precisa de empresas tecnologicamente avançadas». Fez notar também o seu «orgulho» pela distinção, salientando que este título foi atribuído pela segunda universidade mais antiga de Portugal.
Eduardo Marçal Grilo foi ministro da Educação no XIII Governo Constitucional, entre 28 de Outubro de 1995 e 25 de Outubro de 1999. Entre outras funções, foi consultor do Banco Mundial na área da Educação de 1980 a 1991, Presidente do Conselho Nacional de Educação de 1992 a 1995 e Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian de 2000 a 2015. Também se destacou como membro de diversas instituições, como a Selection Board do Programa Erasmus Mundus de 2004 a 2011 e a The International Commission do Council for Higher Education Accreditation.
Foi Presidente da Assembleia Geral da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) e ainda ocupa várias outras funções de relevo.
Marçal Grilo é ainda autor de diversos trabalhos sobre educação, engenharia e cooperação para o desenvolvimento.
Em 18 de Janeiro de 2006, foi agraciado com a Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, pelo seu Mérito Científico, Literário e Artístico.