No dia em completaria 81 anos, Fernando Salgueiro Maia, “rosto do 25 de Abril de 1974”, foi homenageado, a título póstumo, pela Câmara Municipal de Lisboa com a Chave de Honra da Cidade. A distinção, entregue a Natércia Salgueiro Maia, assinala o seu contributo decisivo para a liberdade e a democracia em Portugal.
Nascido a 1 de julho de 1944, em Castelo de Vide, Fernando José Salgueiro Maia estudou na Academia Militar, e combateu na Guerra Colonial, em Moçambique e na Guiné.
Na noite de 24 de abril, saiu de Santarém com os seus homens, rumo a Lisboa. Na manhã do dia seguinte, no Terreiro do Paço, enfrentou as forças do regime que ainda tentavam controlar a situação.
«Foi aí que percebeu que o 25 de Abril estava ganho». Depois, no Largo do Carmo, cercado pelos seus homens, «isto confirmou-se», afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas. Ali «deu a cara perante os líderes do regime, e viveu o que de mais belo lhe aconteceu na vida: O povo português a juntar-se aos militares revoltosos», disse o autarca.
«Hoje fazemos justiça a alguém que mudou o país», precisamente aqui, nesta cidade, recordou Carlos Moedas. A homenagem ao símbolo de Abril, evoca o militar que «não quis protagonismo, não quis fama. Cumpriu a sua missão e retirou-se», sublinhou.
De acordo com uma sondagem feita o ano passado, Salgueiro Maia foi considerado o militar mais importante do 25 de Abril para os portugueses, vincou Carlos Moedas. «Ele próprio o disse, poucos meses após a revolução, que aqueles que com ele fizeram aquele dia ofereceram tudo à liberdade».
Esta é a mais alta distinção da cidade de Lisboa, e para Salgueiro Maia «tinha de o ser, porque ele foi quem em Lisboa nos deu tudo. Quem nos deu tudo sem pedir nada. Não nos esquecemos», acrescentou o presidente da autarquia.
O sonho de um País mais justo
Em 1968, quando estava na Guiné, «ele gostava que o País fosse mais justo, que houvesse maior igualdade. Era uma preocupação que ele tinha e que fazia parte da sua forma de estar», recordou Natércia Salgueiro Maia.
A situação vivida no Terreiro do Paço, salientou a viúva do militar hoje homenageado, «foi realmente um momento de grande emoção» – eternizada na fotografia de Eduardo Gageiro –, «em que ele aperta o lábio. Foi assim que ele me explicou, porque estava realmente convencido que ali a guerra estava a ganhar, como ele costumava dizer».
Apesar dos momentos de grande tensão, «manifestou sempre uma grande coragem, uma grande determinação, muito bom senso, e humanidade também, preocupação com as pessoas, e apostou muito no diálogo», disse ainda. «Se tivesse saído um tiro, não sei se o 25 de Abril teria sido o mesmo».
A Chave de Honra da Cidade de Lisboa é atribuída a personalidades, instituições ou organizações nacionais ou estrangeiras que – pelo seu prestígio, cargo, acção ou relacionamento com Lisboa – sejam considerados dignos dessa distinção.
Texto e Fotos: CML
