Portalegre: Restaurante “O Álvaro” fecha portas

50 anos a ser uma referência da gastronomia do Alto Alentejo

O culminar de um ano representa muitas vezes o fim de um ciclo e foi isso que os últimos dias de 2022 representaram para um dos mais conhecidos restaurantes de Portalegre e da nossa região.

50 anos depois de ter começado a sua actividade na restauração, no dia 30 de Dezembro o restaurante “O Álvaro” serviu refeições ao público pela última vez, dando por encerrada uma vida de grande sucesso, de uma casa que deu a conhecer ao País a freguesia de Urra e que será recordado como uma das referências da gastronomia do Alto Alentejo.

Em conversa com o nosso jornal, os proprietários Álvaro e Maria do Carmo, de 74 e 73 anos, explicam que entenderam que «chegou o momento de encerrar este ciclo», pois «acreditamos que é tão importante saber estar como saber sair, e por isso decidimos respeitar os sinais que a mente e o corpo nos têm vindo a dar de que é altura de parar, de aproveitar mais a vida, de nos dedicarmos mais à família, ter tempo para descansar, visitar mais o filho e os netos, que vivem longe, e aproveitar mais para estar com os amigos, sem a pressão que esta vida representa», confessa o senhor Álvaro.

O restaurante “O Álvaro” iniciou o seu percurso há 50 anos, tanto anos como o senhor Álvaro e a dona Maria do Carmo têm de casados, tendo sido nesta casa que deram início ao seu futuro profissional, mas também ao casamento. Começou por ser uma taberna antiga, onde serviam alguns petiscos, sempre virados para a vertente mais tradicional da gastronomia e apostando em pratos que nem toda a gente servia, e com o passar dos anos, e face à procura e aos interesses que os clientes foram demostrando, arriscaram a transformar o espaço em restaurante, e foi, sem dúvida, uma aposta ganha, que ganhou fama por todo o País, que se tornou motivo de atracção à freguesia de Urra e um dos restaurantes mais conhecidos da nossa região.

A forma como deu a conhecer a sua freguesia é um dos grandes orgulhos do senhor Álvaro, que assume, sem vaidade que ao longo destes anos deu a conhecer a Urra a milhares de pessoas, de Norte a Sul do País, tendo conquistado «muitos bons clientes e a eles devemos a casa que construímos e o termos mantido as portas abertas durante estas cinco décadas», destaca, deixando um agradecimento a todos eles «por todos estes anos em que nos visitaram, apreciaram a nossa comida, e muitos deles que se tornaram amigos», pois «felizmente não fechamos por falta de clientes, temos muitos, e a forma como têm reagido à notícia de que vamos fechar demostra o carinho que fomos construindo e relação de proximidade que temos com todos», denota.

Lacão, pezinhos de tomatada, ensopado de cabrito, migas, bochechas… são apenas dos pratos que eram confecionados pelas habilidosas mãos da dona Maria do Carmo e que conquistaram tantos clientes, pois como faz questão de sublinhar o seu marido, «eu posso ser a cara, mas o segredo da comida está na cozinha e em quem confeciona tudo o que servimos, por isso a minha mulher merece esse reconhecimento», afirma.

Sem nunca ter feito nenhum curso ou especialização, o casal sempre apostou na gastronomia tradicional, nos sabores especiais de quem cozinha com o coração e vai aperfeiçoando com a experiência, tudo isto bem acompanhado da qualidade dos produtos locais e regionais, tendo sido estes os segredos para a durabilidade deste restaurante e para o carinho que os seus proprietários sempre receberam de quem os visitava.

Confessando que os últimos dias foram muito emotivos, «porque o carinho que temos recebido é fantástico e deixaram-me muito sensibilizado», o senhor Álvaro refere que são essas manifestações de apreço que «nos mostram que valeu a pena todo o tempo que dedicámos a construir esta casa, é o melhor que levamos de todos estes anos, o reconhecimento dos nossos clientes. Sinto me realizado e feliz porque sempre trabalhei com gosto, com honestidade e dedicação».

Quanto ao futuro, o senhor Álvaro diz não ter, para já, intenção de passar o negócio para outras mãos, até porque «sei que qualquer pessoa que possa vir a reabrir o espaço terá que manter a qualidade que nos orgulhamos de apresentar sempre, e já tive propostas, mas as pessoas vêm de propósito à Urra para uma refeição aqui e se não for para servir bem os clientes, não vale a pena», garante, assumindo que «por enquanto não penso nisso, e como vivo no primeiro andar do prédio, vou fazendo uns almoços com os amigos, uns convívios, e apenas isso».

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