Hoje falamos de e para Portalegre, a cidade que dá nome ao nosso distrito, uma urbe que já foi vibrante de vida, associativismo e cultura. No passado, destacou-se como uma das mais industrializadas do país. Contudo, ao longo dos anos, e apesar das conquistas de Abril, a cidade e o nosso distrito têm enfrentado desafios frustrantes. A realidade é que, contrariamente ao que se esperava, temos assistido a uma perda de relevo económico e demográfico, reflectindo uma tendência que se estende por todo o Interior do país.
Apesar dos três vértices de desenvolvimento – o Parque Natural da Serra de São Mamede; Elvas – património da humanidade e eurocidade; e Ponte Sor, na fileira da aeronáutica e da cortiça – persiste uma doença que aflige a nossa região: o autarquismo. Esta realidade tem impedido uma recuperação harmoniosa do que se perdeu, pois o mosaico político existente tem dificultado o diálogo e a formação de uma vontade comum capaz de projectar o distrito para outros patamares.
Os nossos autarcas e deputados têm-se isolado nos seus concelhos e na Assembleia da República, mostrando-se ineficientes e incumpridores das promessas feitas. É importante notar que, por todo o país, já existem associações regionais que se dedicam a potenciar as particularidades de cada região, criando um pensamento comum para a sua afirmação, superando assim questões ideológicas menores. No nosso distrito, que tanto precisa de unidade e inteligência colectiva, ainda vemos cada um a puxar para o seu lado, gerando graves desequilíbrios estruturais no próprio território.
As ligações entre os Concelhos e o exterior ainda não estão resolvidas, e continuam a existir constrangimentos que já deveriam ter sido solucionados há muito. A descontinuação da Linha de Leste durante mais de uma década, o trânsito realizado até há bem pouco tempo por pontes do tempo dos romanos, e a necessidade de criar alternativa para a passagem de Santa Eulália para Elvas, são apenas alguns exemplos. Além disso, a ligação vital que a conclusão do IC13 permitiria entre Lisboa e a Estremadura espanhola, é uma prioridade que não pode ser ignorada, mas está num impasse desde 2009.
Adicionalmente, enfrentamos agora uma nova ameaça: a transformação de grandes parcelas da nossa boa terra agrícola em vastos territórios explorados por fundos agrícolas espanhóis, que colocarão em risco a nossa paisagem endémica, as espécies cinegéticas e a própria fertilidade do solo. É preocupante que a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo tenha concentrado esforços a promover um projecto que já perdeu relevância: a barragem do Pisão, que se encontra num verdadeiro pântano de incertezas, e não se digne fomentar no Distrito a ideia de unir para fortalecer.
Portalegre merece mais e melhor. Merece o respeito dos governos, que não tem recebido, e um empenho renovado dos seus eleitos na construção de um plano de recuperação efectivo, que promova a recuperação demográfica, a organização e potenciação do turismo, e um desenvolvimento equilibrado, aproveitando investimentos já realizados em parques industriais devolutos.
É inaceitável que o dinheiro continue a ser desperdiçado em fundações obsoletas, em festas opulentas que geram ruído e deixam lixo, e em empresas públicas motivadas por estímulos externos que carecem de um escrutínio adequado. Este cenário empobrece o nosso distrito e as suas populações, impedindo a fixação de jovens e o regresso de seniores que desejariam voltar se houvesse condições habitacionais adequadas. Lembremo-nos de que a esperança média de vida está nos 80 anos e que os serviços públicos, incluindo saúde, justiça, segurança social, segurança, mobilidade, e autoridade para as condições no trabalho, estão em estado de degradação.
Portalegre está num impasse. Mas a verdade é que existem formas de resolver esta situação. A democracia proporciona-nos todas as ferramentas necessárias para mudar o rumo. A única coisa que precisamos de fazer, é aproveitá-las.