Mensagem do Arcebispo de Évora para o Natal 2024 e para a abertura do Ano Santo na Catedral e Basílica Metropolitana

Dirijo-me a todos os Cristãos e Cristãs da Arquidiocese de Évora, bem como a todas as Pessoas de Boa Vontade para as saudar, cumprimentar e desejar Boas Festas neste Tempo Natalício, tão marcante na nossa História, na nossa cultura, nas tradições e no imaginário da criatividade e das adaptações aos novos tempos. A todos desejo um fecundo Ano Santo 2025. Que a bênção da Paz inunde este novo ano, também celebrativo do Jubileu do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

1 – Ao interrogar os tempos e ao escutar muitos corações, registo algumas interrogações que parecem assumir transversalmente as preocupações de muitos. Refiro-me, por exemplo, à fragilidade da Paz e ao alastramento ameaçador da guerra, com dimensão global e com frequentes alusões ao recurso nuclear ou atómico; às grandes mutações populacionais, com os seus consequentes movimentos migratórios; à ecologia global e às, ainda por alguns discutidas, alterações climáticas; aos novos equilíbrios geo-estratégicos e hegemónicos, que já se desenham e perspectivam; aos diversos e antagónicos radicalismos, que eivados de excessos já dolorosamente comprovados pela História, desafiam ou põem mesmo em causa as culturas politicamente  dominantes, chamadas “Democracias”.

Publicidade

2 – Entre nós, no espaço territorial da Arquidiocese de 13 547 Km2, espalhada por quatro distritos, vinte e quatro concelhos, nove cidades, dezenas de vilas e cento e cinquenta e oito paróquias e com mais de 255 mil habitantes, acrescentam-se as apreensões com o constante envelhecimento populacional e com o crescente despovoamento, também fruto da migração das novas gerações originárias desta região alentejana e ribatejana e dos injustos desequilíbrios provindos de uma ineficaz política do ordenamento do território, desmotivadora do investimento e empreendedorismo, em alguns casos, capaz de provocar mesmo o desalento e a desistência.

Ficam-nos ainda interrogações sobre temas, tais como a integração dos imigrantes, que constantemente chegam até nós e de quem necessitamos; e como evoluirá o actual sucesso do “Turismo”, tão importante para a actual sustentabilidade da Região.

3 – Sobre todas estas questões e muitas outras, tais como assuntos de carácter antropológico, existencial, social, político, cultural, económico e financeiro, se reflectiu em várias instâncias consultivas e executivas de uma Arquidiocese que conta com um Instituto Superior Universitário, dirige ou colabora com várias Fundações, opera na governança de dezenas de IPSS, colabora com mais de três dezenas de Santas Casas da Misericórdia e diversas Associações com várias finalidades, Colégios, Serviços e Movimentos Assistenciais como a Caritas e a Sociedade de S. Vicente de Paulo.

De toda a nossa reflexão brotou uma constatação, para que resplandeça uma Primavera nos corações e mentes humanas, necessitamos de procurar motivos de Esperança. A Esperança é a âncora que nós seguramos em horas de incerteza e de busca de novos rumos na bússola do discernimento. Como ensina o Papa Francisco “o optimismo desengana, a esperança não” (audiência geral, 7 de dezembro de 2016). De facto, o optimismo situa-se no âmbito das capacidades e possibilidades humanas, enquanto a esperança, virtude teologal, nos vem da certeza de que Deus jamais nos abandona. Importa recordar o pensamento do grande biblista e teólogo C. M. Martini “esperar equivale a viver: o homem de facto, vive enquanto espera e a definição do seu existir está ligada à definição do âmbito da sua esperança” (2012).

Da normalidade dos nossos encontros quotidianos com as famílias, os jovens, e lembro a forte experiência que nos permitiu a JMJ, os universitários,  com as crianças, os avós; com docentes, autarcas, empresários, agricultores, profissionais de diversos tipos, incluindo jornalistas, agentes da comunicação social e fazedores de opinião pública, não esquecendo sequer as forças militares e de segurança; de todos os quadrantes e sectores percebeu-se a necessidade de um valor acrescido, a Esperança!

4 – A Arquidiocese de Évora propõe a todos o desafio da Esperança: “Peregrinos de Esperança”. É assim, que apresenta ao interior da Igreja e a toda a Sociedade o seu contributo para este Ano Pastoral, 2024-2025. Atrevo-me a perguntar: Quem quer vir connosco procurar as raízes da Esperança e fazê-las florir neste tempo bastante baço, se não mesmo opaco? Afinal, onde mora ou quem pode ser Esperança? Dito de outro modo, o que vale definitivamente, e pelo qual vale a pena, dar a vida?

Conforme refere o nosso citado Plano Pastoral, “No dia 9 de Maio, o Papa Francisco publicou a Bula de proclamação do Jubileu 2025, “Spes non confundit…”. Neste documento, são traçadas as grandes ideias que deverão marcar a nossa caminhada jubilar, bem como o itinerário a que a Igreja é chamada a percorrer. Como Igreja diocesana, não queremos ficar alheios aos desafios que nos são lançados pelo Papa Francisco.” (…) De facto, “a esperança não pode ser uma palavra vaga e sem conteúdo. Evocar a esperança é ter a ousadia de olhar para os lugares onde essa mesma esperança é uma urgência para muitos e um compromisso para todos. Dos lugares da esperança ergue-se um coro de vozes aflitas que fazem a experiência dos mais atrozes cativeiros que não nos podem deixar indiferentes”, por isso para a nossa Arquidiocese o objetivo para este tempo é “celebrar o Ano Santo em comunhão com a Igreja, para a renovação de cada uma das comunidades cristãs”.

Em plena comunhão com o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, em cumprimento das determinações do Santo Padre, o Papa Francisco, e em consonância com o nosso Plano Pastoral, convoco toda a Igreja Diocesana de Évora, o Povo Santo de Deus que peregrina nestas terras eborenses, para no próximo dia 29 de Dezembro, pelas 16 horas, nos congregarmos na Igreja de Santo Antão, em Évora, para aí, darmos início à Santa Missa Estacional que de seguida peregrinará processionalmente até à nossa Catedral e Basílica Metropolitana, a fim de iniciarmos o jubileu do Ano Santo na nossa Igreja Mãe, celebrando a Eucaristia e todos os Ritos próprios e indicados pelo competente Dicastério da Santa Sé.

O Rev. Presbitério, com o seu Cabido Catedralício; os Rev. Diáconos, os Religiosos e Religiosas, os Consagrados, os Seminaristas e todo o Laicado são convidados a participar jubilosamente neste momento eclesial de elevada catolicidade, expressão da nossa comunhão com o Papa e com toda a Igreja Universal espalhada sobre a face da terra.

Que na cidade de Évora e nesta tarde, nenhuma celebração eucarística seja realizada a par deste solene acto de Unidade. Que em toda a Arquidiocese, sejam previamente previstas as alterações de horários de Missas Dominicais, para que seja possível a participação de todos os clérigos de algum modo, vinculados a esta Arquidiocese. Espera-se o empenho e a colaboração de todos os Católicos.

5 – É Tempo de Natal! O Natal de Cristo garante-nos que “A esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 1-2). Que a semente do Natal faça frutificar a Esperança do Amor de Deus que não ilude, nem nos abandona; no coração e na mente de todos nós, sobretudo nos que, porventura, mais sofrem: os sós, os presidiários, os desprotegidos, os discriminados, os frágeis, os doentes, os dependentes e acima de tudo os desistentes e derrubados da vida.

6 – Obrigado a todos os que guiados pelo sussurro da Esperança, consolidam ou acendem a esperança apagada nos seus irmãos!

Muito obrigado, aos que iluminados pela Luz da Luz, refletem no testemunho coerente, fraterno e solidário essa Luz, através do seu voluntário e dedicado esforço pela verdade, transparência e justiça.

7 – Todos merecemos e precisamos que haja Natal de verdade, porém demos prioridade às crianças e adolescentes. Não lhes leguemos a caricatura pobre e deformada de um Natal meramente consumista e mercantilista. Abramos as portas do verdadeiro Natal às nossas crianças: Jesus Cristo, nos seus valores e propostas, é a Esperança de um mundo novo, pleno de humanização! Jesus Cristo, nascido em Belém, terra do Pão, eis o motivo do Natal! Não fechemos as portas da beleza do Natal aos que, mais do que ninguém, merecem viver em Esperança.

Atrevo-me a sugerir a todos os pais e encarregados de educação que não privem as crianças e adolescentes das belezas que os pastores da campinas de Belém puderam saborear junto ao Presépio: uma criança envolta em panos e deitada na manjedoura, ladeada pela simplicidade de Maria e José. Talvez, uma das oportunidades para que cada criança e adolescente possa sentir o bater do coração do Natal, seja ir com os pastorinhos de Belém até ao Presépio e com eles acenderem a fogueira fraterna da amizade, capaz de aquecer o frio e iluminar a noite numa inesquecível catequese de vida e para a vida.

Às portas do Ano Santo 2025, unido ao querido Papa Francisco, desejo e rezo para todos um fecundo Natal e Santo Ano Novo!

+ Francisco José Serra Coelho
Arcebispo de Évora

Publicidade