É o segundo tesoureiro a apresentar a demissão no presente mandato, iniciado em Setembro de 2021.
O nosso jornal sabe que João Nabais Pinto apresentou na última quarta-feira a demissão de tesoureiro da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre (SCMP), demissão que se soma à da anterior tesoureira, Marina Fonseca (em Junho de 2022), e às de Mónica Serrote e Jorge Capitão, da Mesa da Assembleia-Geral, e de Sandra Capitão, Alexandra Gordo, Jorge Jesus, Nuno Oliveira e Conceição Grilo, de dois elencos do Definitório (Conselho Fiscal).
Na carta da demissão, que anteriormente avisou, sabemos que Nabais Pinto aponta que se «agudizou» o «mal-estar», tendo «perdido a confiança na Senhora Provedora e na sua gestão do presente e futuro» da instituição que «necessita que a Mesa Administrativa tenha uma visão criteriosa e estratégica, uma acção transparente e justa na gestão de recursos humanos, fornecedores e demais parceiros».
O até agora responsável pela Tesouraria aponta que foi possível ultrapassar instabilidades, incertezas e múltiplas dificuldades desde 2018 com «dois recursos aos Fundo de Socorro Social» (FSS) no valor de 1,025 milhões de euros, com alterações ao Quadro de Pessoal «com muitos despedimentos» e «inúmeras negociações com fornecedores» para além de dois recursos a crédito bancário no montante de 1,1 milhões de euros para «fazer face às necessidades de capital herdadas neste mandato e garantir a continuidade da instituição, a manutenção dos postos de trabalho e a prestação de bons cuidados aos utentes da diferentes valências».
Assim e «por respeito a todos», contribuintes que indirectamente através do FSS, e a quantos «lutam diariamente pelos interesses da Santa Casa» e que «defendem a estabilidade económica», Nabais Pinto assume que «não posso defender senão outro estilo de comando, outra postura de gestão», sendo que muitas das suas discordâncias estão lavradas em acta, pois a instituição «necessita mais do que ter uma gestão à vista, necessita de ter uma gestão financeira e económica que lhe confira estabilidade e prosperidade, tranquilidade, uma gestão que perceba o presente e aproveite as oportunidades que surgem, pois se elas surgem é porque houve muito trabalho prévio desenvolvido.
Críticas à gestão
O demissionário tesoureiro defende uma gestão de «estabilidade que traz a segurança, a confiança de todos os parceiros», geradora de respeito, ou seja, «uma gestão que seja feita com estratégia bem definida e não de forma déspota, escolhendo não tomara as decisões mais correctas, aparentemente tendo sempre os olhos postos na data em que será possível efectuar um novo pedido de ajuda financeira extraordinária, através do FSS ou outro mecanismo de ajuda pública».
Nabais Pinto assume ainda que houve «constantes acontecimentos em que, como tesoureiro, me vi e senti ultrapassado», como manifestou e ficou registado em actas, bem como «repetidos acontecimentos em que fiquei surpreendido com decisões que afectam fortemente a tesouraria da instituição, decisões tomadas sem sequer o meu conhecimento», isto para além das muitas solicitações de informação, pedido de documentos ou de dados a que nunca recebeu resposta.
Perante isto e depois de «tentar evitar este desfecho e arrastar a minha decisão ao longo dos últimos meses, nunca colocando em risco a estabilidade e funcionamento da tesouraria», Nabais Pinto apresenta a demissão, como já havia avisado, «muito ponderada» e só depois de «questionar os serviços de tesouraria da instituição» de modo a não ficar qualquer pagamento por fazer considerado urgente, para não pôr em causa o funcionamento regular imediato da SCMP, ficando à disposição para qualquer esclarecimento ou ajuda que seja considerado necessário.
O nosso jornal sabe ainda que, da carta de demissão apresentada à Provedora e à Mesa Administrativa, foi dado conhecimento ao Bispo e aos presidentes da Mesa da Assembleia e do Definitório.
Luísa Moreira confirma demissão
O nosso jornal contactou a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, Luísa Moreira, que confirmou a recepção da carta de demissão de João Nabais Pinto.
Instada a fazer um comentário ao conteúdo da missiva, Luísa Moreira afirmou que «trabalhar em grupo é sempre complicado quando temos um ego muito grande» e garantiu que os órgãos sociais da instituição se mantêm focados no seu trabalho.
A provedora considera ainda que «é muito triste que uma pessoa, por vaidade, ponha em causa uma instituição» e explicou que a demissão de Nabais Pinto não vai levar a qualquer tipo de eleição, uma vez que será substituído pelo 1.º Suplente da lista da Mesa Administrativa.