Irmã Emanuel: A amiga dos pobres

Em Portalegre todos a conhecem por Irmã Emanuel, apesar do seu verdadeiro nome ser Isaltina. Na altura que a freira entrou para a vida religiosa, com 16 anos, as noviças eram obrigadas a mudar o nome, e foi esse o nome escolhido. «O nome pode mudar a vocação», diziam.

Isaltina Carrilho Martins, mais conhecida por Irmã Emanuel, é, actualmente, a religiosa que se encontra há mais tempo na comunidade do Sagrado Coração de Maria, em Portalegre.

Nasceu na aldeia do Souto, no Sabugal, e cresceu com os irmãos, sendo a mais nova de 12. Entrou para a vida religiosa por volta dos 16 anos, fez o noviciado em Braga, professou aos 17 e, até hoje, nunca parou de ajudar os que mais precisam.

Criada no seio de uma família religiosa, unida e muito serena, o mais importante era «a união da família e a partilha entre nós». Descreve o pai como o chefe da família, um grande homem, muito respeitador e que partilhava tudo o que tinha com os outros. Apesar de já ter uma tia e uma irmã na vida religiosa, acredita que «foi uma grande força que me fez vir para aqui» e que foram as últimas palavras do pai que se infiltraram profundamente no seu coração: «se tiveres muito dá muito, se tiveres pouco dá pouco mas dá sempre».

O desejo de fazer algo pelos outros partiu de casa, o desejo de partilhar, de ajudar. «A minha felicidade está em ir ao encontro das pessoas». Governar uma família com 12 filhos não era fácil, mas acredita que «se os meus pais faziam tudo por nós, é muito importante que nós façamos algo pelos outros».

A irmã Emanuel aprendeu muito com a família. Hoje nunca sai sem se despedir da fotografia dos pais e dos irmãos mais velhos. «Devo a minha maneira de ser aos meus pais porque foi com a minha família que eu aprendi a ser dos outros e a ser de Deus. Não foi a vida religiosa que me fez, foi o meio familiar».

O caminho religioso

Em Portalegre todos a conhecem por Irmã Emanuel, apesar do seu verdadeiro nome ser Isaltina. Na altura que a freira entrou para a vida religiosa, com 16 anos, as noviças eram obrigadas a mudar o nome, e foi esse o nome escolhido. «O nome pode mudar a vocação», diziam.

Apesar de ter iniciado a sua vida religiosa em Braga, continuou a sua missão por outras cidades como Guimarães, Aveiro, Lisboa, Coimbra e Fátima. Devido à grande dificuldade monetária em pagar a professores naquele tempo, e visto que o Bispo de então, D. Agostinho Lopes de Moura, se viu sem freiras em Portalegre, a irmã foi convidada a vir para a cidade do Alto Alentejo.

Assim sendo, as irmãs tiveram de se preparar para começar a dar aulas às crianças. Em Portalegre, as irmãs Teresianas tinham-se ido embora e, por isso, a Providencial sugeriu começar uma instituição na cidade. A casa onde começaram a dar aulas, na Rua de Olivença e Travessa da Casa de Saúde, não tinha muitas condições, razão pela qual as Teresianas haviam partido. Conta a Irmã que no anexo em que dormiam alguas alunas e freiras, no antigo paço episcopal na Rua da Mouraria, havia muitos ratos e que tinha de dormir com o lençol por cima da cabeça. Contudo, as irmãs que continuaram por cá ajudavam-se muito umas às outras visto que as mais novas tinham pouca experiência na área.

Começaram por abrir o colégio com apenas nove alunas internas, as externas, por sua vez, vinham todas do tempo das irmãs Teresianas. Existiam muitas dificuldades financeiras na altura e eram as próprias irmãs que tinham de se preparar e andar com o colégio para a frente. A Superiora que estava na altura era dura e muito exigente. Entretanto o número de alunas começou a aumentar e as irmãs tiveram de sair daquela casa tendo em conta as poucas condições existentes.

Passados quase oito anos e superadas algumas dificuldades, começou a construção do colégio do Sagrado Coração de Maria, edifício onde se encontra hoje, junto da Escola Básica Cristóvão Falcão e que era parte integrante do edifício do novo colégio. A princípio, apenas se mudaram as alunas internas. A irmã Emanuel, a mais nova na altura, andava sempre de um lado para o outro, visto que a missa continuava a ser na outra casa e tinha de cuidar das alunas no novo edifício. Conta que, na altura, «nem tinha um guarda-chuva, o avental servia. Não era uma coisa essencial». Muitas vezes, as próprias aulas tinham de parar por causa do barulho das obras porque a construção continuava.

Quando as obras finalmente terminaram, as irmãs mudaram-se para a nova instituição. Na altura a Irmã Emanuel dava aulas de geografia, ciências naturais e matemática e chegava a ter 38 aulas por semana, «às vezes, preparava as aulas quase a dormir de tão cansada que estava».

Entretanto, a Irmã Emanuel decidiu concorrer a nível nacional e foi colocada em Beja. Quando foi tomar posse da escola, encontrou novamente muitas dificuldades. A escola era no Monte dos Coitos, onde viviam duas famílias. As condições da escola eram péssimas, a porta era uma folha de zinco e tinha muitos ratos. As secretárias e as cadeiras estavam partidas e a religiosa tinha de fazer todos os dias cinco quilómetros até Beja. Resolveu ir denunciar as condições à Câmara de Beja, mas disseram-lhe logo que estava a levantar demasiados problemas. Depois de muita insistência conseguiu que o presidente da Câmara e o Director Escolar fossem até ao monte ver as condições reais do sítio. Concluíram que seria melhor mudar a Irmã para outro monte e foi lá que esteve o resto do ano.

Passado aquele ano, a irmã concorreu para a Beira, visto que tinha lá familiares e ficou durante um ano. Como não queria sentir-se presa a ninguém, concorreu novamente para o Alentejo, «sonhava com voltar à actividade no Alentejo e fui parar a Aldeia da Mata e estive lá 13 anos».

A Irmã reformou-se de lá, juntamente com três colegas, embora continuasse a ajudar a aldeia, as crianças, as pessoas idosas e doentes que se encontravam no lar. Ao ver as dificuldades que a Aldeia da Mata continuava a passar, a irmã tentou construir um centro de dia para os idosos e, com a ajuda das pessoas da aldeia, e foi bem-sucedida. O centro de dia depressa ficou cheio e, ainda hoje, vai visitar pessoas amigas e doentes.

Dia-a-dia da irmã Emanuel em Portalegre

Reformada há mais de 30 anos, o dia-a-dia da Irmã Emanuel é passado no Sagrado Coração de Maria, a ajudar as pessoas durante o dia e a organizar o trabalho durante a noite.

Quando se reformou, ainda lhe pediram para ir para a Misericórdia de Portalegre para ajudar os idosos e os doentes. A irmã Emanuel lá esteve durante um tempo, ajudava a tratar as feridas, a higiene e até mesmo da alimentação dos idosos. Tendo em conta que as necessidades eram muitas e havia falta de bens materiais, juntamente com as pessoas do centro de dia da Aldeia da Mata, a Irmã conseguiu arranjar cortinados, mantas e até babetes para cada um dos utentes.

Para a religiosa não existe um único dia em que não tente ajudar alguém que necessite e, por cá, existe muita gente a precisar de ser ajuda.

«Portalegre ainda não está desperta para ajudar, porque para se saber como ajudar, é preciso comunicar com as pessoas. Por vezes, nós, as Irmãs, também estamos acomodadas e não percebemos que cada um tem uma maneira diferente de ser». «É preciso ter um coração forte e generoso para com os outros e é preciso sairmos de nós mesmos para conseguirmos ajudar os outros».

Apesar de ser difícil encontrar ajuda em Portalegre, ainda tem encontrado algumas pessoas dispostas a isso. A irmã costuma distribuir pão pelos mais necessitados e tenta ajudar os imigrantes com mais dificuldades. Costuma, também, distribuir produtos por outras pessoas e elas dão a quem necessita. «Assim dou oportunidade aos outros de ajudar, faz com que se sintam bem com eles próprios. É importante ajudar as outras pessoas a ajudar».

Para tal recebe bens de várias entidades, nomeadamente comerciais, mas também de particulares, que lhe entregam mensalmente algumas verbas para que ela possa acorrer aos mais necessitados.

Aqui em Portalegre, a Irmã Emanuel encontrou o seu lar, junto de pessoas que gostam muito dela, pois confirma que «sinto que as pessoas gostam de mim, mas também acho que os amigos se devem cativar, temos de procurar cativá-los ao longo do tempo».

A Irmã Emanuel sente-se muito feliz e, ao olhar para o passado, não mudava nada na sua vida agora aos 79 anos. «É este o meu testemunho, cheio de alegria, e quando chegar o meu dia, espero que o Senhor me queira lá porque que eu estou aqui a ajudar e quero continuar a fazê-lo. Não quero que o meu coração se feche».

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