Assistimos a alguma recuperação do artesanato tradicional um pouco por todo o País, por vezes sob outras formas e com novo design, e a olaria não é excepção.
No caso da olaria pedrada de Nisa, uma mulher – Ilda Marques – faz dois em um: assume o trabalho tradicional masculino, em que a roda do oleiro está reservada ao homem, e também o trabalho decorativo, ou seja o pedrar que costuma pertencer à mulher.
A vida tem acasos, e Ilda Marques, 51 anos, dá uma volta na sua por causa da pandemia. Trabalhava no ramo imobiliário em Lisboa mas vivia em Nisa, acaba por ficar mesmo no Alentejo e imediatamente a seguir ao Covid é informada da existência de um curso de olaria pedrada que ia ser ministrado através do IEFP. Sempre se sentiu atraída pela arte e não perdeu esta oportunidade, pelo que durante oito meses frequentou o curso, até Fevereiro de 2023.
Em seguida o Mestre António Pequito, que foi seu formador, convidou-a a trabalhar com ele na sua oficina, na Rua Prof. João Porto, 21, em Nisa, isto porque a esposa, a D. Joaquina, havia fracturado um braço e não pedrada, de modo que oficina estava de porta fechada.
O mestre Pequito «percebeu na formação que eu gostava» da arte, assume Ilda Marques, que aceitou o desafio, e assim, «ele fazia as peças e eu pedrava para ele poder responder às encomendas».
Com a continuação, a Ilda acabou mesmo por começar a moldar e assume que «tenho liberdade para fazer e para inovar», declarando que «o meu objectivo tem sido sempre o de aprender o máximo possível com o Senhor Pequito», e «agora faço tudo», desde «ir ao barro e ir à pedra», porque «o Senhor Pequito ensinou-me tudo», desde amassar o barro até levá-lo para a roda.
A oleira faz as peças tradicionais mas também começou a inovar. E faz desde letras a relógios, candeeiros e outras peças. Mas relativamente ao tradicional também faz pesquisa de peças que já não se fazem, tal como de riscados, ou seja de desenhos, alguns que são muito cheios e que por isso levam muito tempo de trabalho.
Lembremo-nos por exemplo que o barro do Cacheiro tinha diferenças relativamente ao de Nisa.
Ilda Marques trabalha na oficina de mestre Pequito e ali pode ser encontrada todos os dias.
Este é um dos exemplos de perpetuação do artesanato, neste caso do barro pedrado de Nisa, a que se alia a renovação e a inovação, dando-nos a esperança – certeza de que não vai perder-se esta arte, até porque segundo a oleira, «é rentável» produzir as peças porque há mercado e não falta a procura.