Hugo Alcântara, de Portalegre para o Mundo

«A SIC para mim foi um sonho, é um sonho todos os dias, e ao fim deste tempo todo, por vezes ainda não acredito que o consegui»

Por ocasião dos 25 anos da SIC, o nosso jornal associa-se a estas comemorações também de uma forma especial, com uma reportagem sobre uma cara da estação que é bem conhecida de todos nós. Um jornalista que é portalegrense de gema, que continua a residir na cidade, e cujo percurso profissional tem origem precisamente no jornalismo regional, no qual começou a dar os primeiros passos também há 25 anos.

Esta viagem pelo universo SIC começou há 15 anos para o portalegrense Hugo Alcântara, mas a sua cruzada como jornalista começou a ser trilhada vários anos antes, naquilo que diz terem sido um conjunto de acasos.

Com apenas 16 anos e por mera curiosidade, por «achar que era um ambiente que me poderia interessar», Hugo Alcântara começa a trabalhar na Rádio Portalegre, onde começou por aprender sobre o funcionamento de uma rádio,

e «a tentar perceber o que aquilo era, qual podia ser o meu contributo e se poderia ter jeito para fazer aquilo, e durante muito tempo fiquei convencido que não», admite.

Nesta que foi a sua primeira experiência num órgão de comunicação social, Hugo Alcântara cruzou-se com profissionais com quem aprendeu bastante, em particular com Sousa Casimiro, que «foi quem me permitiu lá estar e quem, depois, me ajudou e guiou». Até que, «numa determinada altura, e mais um acaso, um dos jornalistas adoeceu e eu comecei a fazer notícias e a apresentar noticiários. A partir daí foi um comboio que nunca mais parou, quando de facto não teve nada para começar a andar», recorda, reconhecendo que foi assim que o “bichinho” da rádio de que tanto se fala o conquistou, e é algo que ainda hoje lhe está no sangue.

«Trabalhei na Rádio Portalegre cerca de 11 anos, colaborei com o grupo Renascença outros tantos e só deixei de trabalhar com eles quando o trabalho na SIC apertou de tal maneira que eu não conseguia estar em dois sítios ao mesmo tempo e tive que fazer uma opção. Mas sem dúvida que é algo que nunca mais nos deixa, e eu gosto muito. Ainda há pouco tempo, e por outra questão de um hobbie pessoal, fui entrevistado para uma rádio, e só de estar dentro do estúdio me deu um gozo especial. É uma coisa que eu adoro, pelo imediatismo, embora agora a televisão já o seja também, porque presentemente já conseguimos fazer um directo quase de qualquer lado, mas durante muito tempo não foi assim».

Para além do Grupo Renascença, Hugo Alcântara colaborou vários anos com o Jornal de Notícias e durante dois anos foi o correspondente da TVI na região. «Depois da TVI estive mais um ano sem fazer televisão, mas como tinha vontade de fazer, e achava que conseguia lá chegar, tentei a minha sorte. Um dia arranjei uma história, e como ainda estava na zona o repórter de imagem que tinha feito a TVI comigo, fomos os dois fazê-la. Falámos com a SIC e perguntámos se queriam ver, eles viram, e um dia emitiram-na… depois tivemos durante muito tempo sem conversar, até que um dia surgiu uma oportunidade, através do José Gomes Ferreira que hoje é director adjunto, mas na altura era subdirector de informação, que me convidou para experimentar durante um ano… e estamos a experimentar há 15 anos», revela-nos.

Mais de 10 mil peças editadas

Durante estes 15 anos muitos foram os quilómetros percorridos, os dias e as horas de filmagens e reportagens, que contabilizam até ao momento mais de 10 mil peças editadas pelo jornalista, que cobre a área geográfica de Portalegre, Castelo Branco, Santarém e «mais um qualquer sítio onde faça falta», pelo que não é de estranhar quando o vemos em reportagem noutros locais do País e até mesmo noutros países.

O jornalista reconhece que «não sabia fazer absolutamente nada», e «não é que agora saiba fazer muito», brinca, recordando que não teve formação superior em jornalismo, mas que ao longo do seu caminho tem aprendido muito.

«Acabei o 12º ano e como já estava a trabalhar assim continuei, e assim me mantive por até agora. É algo de que me arrependo amargamente de não ter conseguido fazer, e que de facto até agora não me limitou, ainda… pois não sei como será no futuro», refere, constatando que «aquilo que, mal ou bem, vou fazendo é com o que aprendi com os colegas que fui encontrando ao longo do meu percurso profissional. O que tento é fazer diferente todos os dias, tento perceber outros conceitos, sair da caixa, errar para tentar fazer melhor… se isto for evolução… então pelo menos eu tento».

Questionado sobre de que forma a sua identidade, enquanto jornalista, foi definida pelo seu percurso na SIC, Hugo Alcântara refere que «a minha forma de trabalhar e aquilo que é a minha maneira de estar no jornalismo resulta do muito que aprendi com aquilo que é o ADN da SIC. Lembro de ver a SIC abrir, ainda miúdo, e da grande evolução que representou face ao que existia, era algo diferente, em termos de imagem e de conceito, com profissionais belíssimos. E na altura, há 25 anos precisamente, eu pensei que realmente era algo que eu gostava muito de fazer, embora achasse que nunca teria essa oportunidade, a verdade é que era um sonho».

O jornalista ainda hoje olha para o seu trabalho como uma oportunidade, e «já que tenho a oportunidade de trabalhar com aqueles que são os melhores dos melhores, tenho de ir aprendendo o mais possível», realça, sublinhando que na SIC encontrou uma forma de trabalhar o jornalismo na qual se revê, nomeadamente pela sobriedade, pouco sensacionalismo, humanismo, que é aquilo que todos nós vamos tentando fazer», assume, revelando que trata cada notícia tendo como pergunta de fundo: «e se fosse a minha mãe?», pois é desta forma que considera que melhor faz o seu papel e é esta a fasquia que usa, dentro daquilo que é o interesse informativo e que tem de ser feito.

Para Hugo Alcântara não há dúvida de que «as pessoas merecem tudo em termos de informação», no entanto não se identifica com o jornalismo sensacionalista, e defende mesmo que o seu papel é «entregar tudo de informação, mas de uma forma linear. Nós vemos e passamos por muitas coisas que nem sequer mostramos, tem a ver com uma questão de filtro, que no fundo é uma questão de deontologia, de seriedade pessoal, intelectual e depois profissional. A SIC ensinou-me muito, mas os meus pais também», sublinha.

«Muitas vezes deixei de ter uma vida para querer ser jornalista»

Apesar de continuar a afirmar que chegou onde chegou porque teve sorte, a verdade é que presentemente Hugo Alcântara é uma referência no jornalismo nacional e a sua forma de trabalhar é diferenciadora, e embora não se assuma como tal, reconhece que procura fazer sempre melhor a cada peça que faz.

«Eu faço tudo aquilo que me deixam, mas a SIC tem tanta gente boa que, por vezes, se torna difícil fazer tudo aquilo que queremos. Eu tento, muitas vezes dá, outras não dá… ou seja, aquilo que as pessoas me têm visto fazer é uma pequena parte do que eu tento…», assume, reconhecendo que esta é de facto uma profissão que exige muito, e que «muitas vezes deixei de ter uma vida para querer ser jornalista e isso tem impactos grandes. Agora com 40 anos, e quando olho para trás, percebo isso. Percebo que há coisas que perdi, que não fiz porque achei que era isto… é uma opção de vida, e esta foi a minha. Muito honestamente não me arrependo porque o jornalismo é muito mais do que a minha profissão. O “bichinho” da rádio transformou-se num elefante, e só tens noção disso quando percebes que és mesmo jornalista, e que queres mesmo fazer isto. Que apesar de já ter feito umas coisas, ainda há tantas outras para fazer».

Apesar de conseguir ter algumas folgas, Hugo Alcântara não esconde que este é um trabalho exigente, pois «quando estamos a trabalhar são os dias e as horas que forem precisos», e dá como exemplo a cobertura deste ano dos incêndios, em que foram cerca de 28 dias fora, e nesses dias foi das 07h às 03h. Só dá para ir ao Hotel, quando há, para tomar banho e mudar de roupa. Claro que há alturas mais calmas, mas fazemos o trabalho exactamente que é necessário fazer. Entendo que não é necessário trabalhar muitas horas, é sim necessário entregar tudo o que faz falta, mas se para isso forem necessárias 16 ou 20 horas são essas horas que fazemos, e se for necessário não ter folgas, porque a actualidade assim o exige, claro que não temos. Faço aquilo que todos fazemos», constata.

Apesar de passar muito tempo fora, é em Portalegre que o jornalista continua a residir, o que nos leva a perguntar se a cidade tem conseguido beneficiar desta ligação, ao que Hugo Alcântara admite que «quando cá estou, e sempre que é possível fazer alguma coisa, eu faço, porque me dá particularmente gosto mostrar aos outros aquilo que também é meu, mas tenho pena de não o poder fazer mais, porque por vezes também não há mais para mostrar…nem no bom nem no mau, porque já vamos sendo tão poucos. Temos uma região que precisa de atenção, mas, por vezes, para ter atenção também tem que ter alguma coisa sobre o que possa incidir essa atenção», constata.

Em 25 anos como jornalista, muitas são as histórias, as notícias e as reportagens a que deu voz, pelo que não lhe é fácil precisar qual foi a mais difícil de fazer, assumindo que o mais complicado é sempre aquilo que afecta de alguma forma a vida das pessoas. «É sempre difícil porque todos os dias é uma pessoa diferente, e isso também nos faz pessoas diferentes. Mas também já fiz coisas que são fantásticas, pois o jornalismo dá-me a oportunidade de conhecer o País, o Mundo, e fazer uma série de coisas que todos os dias me enriquecem e eu acho que isso é o melhor que podemos levar desta vida», e dá como exemplo a cobertura que fez em 2017 do Dakar. «Gostei muito de fazer o Dakar este ano, mas foi algo muito complicado. Foram mais de 20 dias, em que fizemos 17 reportagens em condições que não existiam, sem comunicações, não havia nada, mas que me deu um prazer extraordinário, ainda por cima é um meio em que me mexo particularmente mal, não é coisa da qual eu perceba, então era um misto de aprendizagem, de novas sensações», recorda.

«Aconteceram-me coisas muito boas na vida, mas foi a SIC que seguramente mais me ensinou»

«Para mim foi um sonho, é um sonho todos os dias, e ao fim deste tempo todo, por vezes ainda não acredito que trabalho lá», é assim que Hugo Alcântara descreve estes 15 anos de trabalho na estação de televisão, acrescentando que «é uma estrutura fantástica, com profissionais do melhor que há no mundo, que me permite aprender todos os dias, me dá oportunidades e me faz perceber que o meu trabalho, sendo pequenino, depois é mostrado naquele que acho que é o melhor ecrã do mundo».

Assumindo que «a pior coisa que me podia acontecer» era perder este sonho, o jornalista encara o seu trabalho com um grande respeito, e quando lhe pedimos para descrever o que tem sido o seu percurso na SIC, Hugo Alcântara responde que «era um sonho que eu tinha quando era miúdo, e agora quando vejo o genérico do Jornal da Noite e estou sentado enquanto telespectador, por vezes, ainda me esqueço que também lá faço umas coisas. É acordar todos os dias sem ter a noção que vais trabalhar. Estejas onde estiveres, há quanto tempo estiveres, mesmo quando o cansaço quase te vence, e tu percebes que aquele que é o teu trabalho é essencialmente uma grande paixão… Aconteceram-me coisas muito boas na vida, nomeadamente os meus filhos, mas foi a SIC que seguramente mais me ensinou e mais me fez crescer, a par com a minha família», afirma.

«Fazer 25 anos é uma marca notável»

Relativamente aos 25 anos da SIC e à sua digressão pelo País, o jornalista considera que «fazer 25 anos é uma marca notável, acho que dar a oportunidade de o imaginário do universo SIC se aproximar das pessoas é muito bom. As pessoas têm a SIC todos os dias dentro de casa, mas a maior parte dela não conseguiria ir à SIC, que desta forma vem até elas», salienta.

Revelando um pouco do que se pode esperar da passagem da SIC por Portalegre, Hugo Alcântara adianta que «os portalegrenses vão ter oportunidade de contactar com as caras da SIC, perceber como se transmite um telejornal, eventualmente, dentro do camião, participar numa visita guiada e conhecer um pouco do brilho, do imaginário e do espectáculo da televisão».

Esta iniciativa é para o jornalista portalegrense «uma ideia fantástica», porque dá ainda uma oportunidade às cidades, às regiões de terem, no Primeiro Jornal, um espaço de promoção, para além da sua transmissão em directo da própria cidade. «Tem sido uma oportunidade para o País, e claro que para Portalegre também vai ser, porque nos mostra enquanto portugueses, e temos conseguido mostrar o que de bom e interessante há em Portugal, o que nos diferencia, mas também aproxima, e isso, falando enquanto telespectador, eleva-nos o espírito».

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