Eu sou ucraniano

Artigo de Opinião de Santana-Maia Leonardo

Volodymyr Zelenskyy, presidente ucraniano, demonstrou, mais uma vez, que é nos momentos mais difíceis que se revelam os verdadeiros líderes. Perante a invasão russa, uma das maiores potências militares e uma das mais sanguinárias máquinas de guerra, Zelenskyy, o comediante eleito presidente da Ucrânia, respondeu como Leónidas, Rei de Esparta, quando os EUA se ofereceram para retirá-lo da Ucrânia: “Eu preciso de munições, não preciso de boleia. Os russos vão-nos conhecer pela frente e não pelas costas.

Leónidas, no Desfiladeiro das Termópilas, tinha tido uma resposta semelhante quando o mensageiro de Xerxes lhe propôs a rendição do seu pequeno exército de 300 espartanos perante o imenso exército de Xerxes com 300.000 homens: “O nosso exército lançará tantas setas que encobrirão o Sol”. E Leónidas respondeu: “Ainda bem, combateremos à sombra.

A resistência de Leónidas permitiu que Atenas se preparasse para enfrentar e derrotar os persas. Por sua vez, a decisão de Zelenskyy, de ficar para defender a liberdade do seu povo e do seu país contra os invasores, pôs a nu as titubeantes lideranças ocidentais, sempre dispostas a sacrificar as suas convicções pelas suas conveniências. No entanto, face ao exemplo do comediante, a União Europeia e os EUA não tiveram outra alternativa a não ser mobilizar-se e unir-se para apoiar a Ucrânia e enfrentar o ditador russo.

E não me venham falar em neutralidade, quando estamos perante a luta pela liberdade do povo ucraniano contra a invasão russa. Em tempo de guerra, o mundo é a preto e branco. Como disse Max Webber, «neutro é quem já se decidiu pelo mais forte.» Eu estou de alma e coração com o povo ucraniano.

Tal como nos ensinou Aristóteles, “a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.” E Zelenskyy ajuda-nos a perceber a diferença entre mandar e comandar: quem manda dá ordens; quem comanda dá o exemplo. E Portugal é um bom exemplo de um país onde abundam os chefes e faltam os verdadeiros líderes.  

Há uma frase de Miguel Torga que retrata na perfeição o povo português: “Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão”. Recordo que fomos o país europeu que suportou mais tempo a Inquisição e que teve a ditadura mais longa. Isto diz muito da massa de que é feita a gente que aqui reside.

Além disso, é bom não esquecer que o povo português é muito dado à conversa fiada, valorizando mais o palavreado e as promessas do que as acções. Basta recordar que António Costa e o PS andaram a traçar linhas vermelhas ao “Chega”, por ser um partido radical e anti-sistema, de braço dado com dois partidos que, na hora da verdade, demonstraram que são, afinal, muito mais radicais, anti-europeístas e anti-sistema democrático do que o “Chega”.

Como escreveu Churchill (e é importante recordá-lo neste momento), “Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança.” E Zelenskyy, ao recusar-se a ajoelhar perante o poderoso exército russo, optando por sacrificar a sua vida na defesa da liberdade do seu povo, dos ideais europeus e das suas convicções, fez-me sentir ucraniano. 

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