Doentes respiratórios crónicos: no verão, não deem férias à vossa medicação

Artigo de opinião de  Isabel Saraiva, presidente da RESPIRA – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas

Os profissionais de saúde têm vindo a alertar as pessoas com doença respiratória crónica para a importância da adesão à terapêutica e esta mensagem assume agora uma importância ainda maior, tendo em conta o contexto pandémico que atualmente vivemos. Os doentes respiratórios crónicos, só por si, já fazem parte do grupo de risco para a Covid-19, uma situação que pode provocar consequências ainda graves nos doentes que não têm a doença controlada. A proteção do pulmão é feita 365 dias por ano e não apenas em determinados momentos.  É importante que os doentes respiratórios crónicos recebam esta mensagem.

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Porem os dados mostram que os medicamentos para diversas patologias respiratórias crónicas não são utilizados acordo com o indicado na prescrição médica, uma situação que corrobora o facto de haver uma fraca adesão à terapêutica e que se agrava durante o período coincidente com as férias. Habitualmente, as taxas de adesão à terapêutica são mais baixas no verão, aumentam no outono e permanecem altas durante os meses de inverno e até à primavera1. Temos estudos internacionais que revelam que a taxa de adesão à terapêutica no caso dos doentes asmáticos e no caso dos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica varia entre os 22% e os 78%2. Estes números mostram uma imensa e preocupante oscilação na taxa de adesão à terapêutica. É urgente mudar este panorama tendo em vista a defesa de uma melhor qualidade de vida de todos os doentes respiratórios crónicos.

Sabemos que a época das férias é um momento de descontração e repouso, mas não de   abandono da terapêutica.

As sociedades científicas e as associações de doentes que trabalham na área das doenças respiratórias têm alertado para esta problemática todos os anos. Em 2020, e face à pandemia de Covid-19 as consequências que daí podem advir para estes doentes, juntámo-nos (Associação Portuguesa de Asmáticos, Respira – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e Outras Doenças Respiratórias Crónicas, Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica e Sociedade Portuguesa de Pneumologia) numa campanha de sensibilização sob o mote “Neste verão não dê férias à sua medicação”. Esta é uma iniciativa que decorre até 15 de setembro, com a disponibilização de diversos materiais informativos para alertar os doentes respiratórios crónicos para as consequências do abandono da terapêutica durante os meses de verão.

Dicas de verão para a pessoa com doença respiratória

Em casa:

– Evitar/Cessar hábitos tabágicos 

– Beber água e evitar bebidas alcoólicas

– Manter a casa fresca e arejada, tendo cuidados redobrados com a utilização de ventoinhas e outros equipamentos semelhantes

– Fazer uma alimentação equilibrada

– Manter a atividade física

– Tomar banho com água mais fria para diminuir a sensação de calor

– Manter a medicação bem conservada – os inaladores devem ser mantidos num local fresco e seco

– Seguir todas as recomendações da Direção-Geral da Saúde relativamente à pandemia da Covid-19

Se sair de casa:

– Preparar uma mala com os bens essenciais – não esquecer o inalador

– Consultar as previsões do tempo e níveis de pólen no ar

– Usar roupas frescas e leves – diminui a temperatura corporal

– Proteger-se da exposição solar e aplicar protetor solar

– Manter uma lista atualizada dos medicamentos e um número de contacto em caso de emergência

– Nas viagens de avião, os doentes devem informar a companhia aérea sobre a sua condição no momento da reserva e consultar os sites da Respira www.respira.pt e da ELF European Lung Foundation www.europeanlung.org

Referências: 

  1. Turi, K.N., et al., Seasonal patterns of Asthma medication fills among diverse populations of the United States. J Asthma, 2018. 55(7): p. 764-770.
  2. George, M. and B. Bender, New insights to improve treatment adherence in asthma and COPD. Patient Prefer Adherence, 2019. 13: p. 1325-1334.
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