A esofagite eosinofílica (EE) é uma patologia inflamatória crónica do esófago, de natureza imunomediada, caracterizada pela infiltração predominante de eosinófilos na mucosa esofágica. Esta infiltração provoca inflamação persistente, conduzindo frequentemente à redução do calibre esofágico e, consequentemente, ao aparecimento de sintomas como disfagia, impactações alimentares, dor torácica e pirose.
Estima-se que a EE afete cerca de 1 em cada 2000 indivíduos, sendo uma condição cada vez mais reconhecida, com incidência crescente. Predomina no sexo masculino, com maior frequência na adolescência e início da idade adulta, e está fortemente associada a antecedentes pessoais ou familiares de atopia, nomeadamente rinite alérgica, asma ou dermatite atópica. Entre os desencadeantes mais comuns encontram-se alergénios alimentares como leite, trigo, soja e ovos, embora também se considerem fatores ambientais na sua fisiopatologia.
Sem tratamento adequado, a EE pode evoluir para formas mais graves, com estenoses persistentes e disfagia progressiva, aumentando o risco de desnutrição e comprometimento do estado geral. Para além das manifestações físicas, a EE pode ter um impacto psicológico e social significativo. Os doentes podem desenvolver comportamentos de evitação alimentar, medo de engasgar, redução do apetite e perda ponderal. Estes sintomas interferem com o bem-estar emocional e social, estando descritas associações com ansiedade, depressão e isolamento. As limitações alimentares impostas pela doença afetam frequentemente o convívio social, refeições em grupo, prática desportiva, viagens e até a comunicação em público.
O diagnóstico precoce da esofagite eosinofílica é fundamental, não só para aliviar os sintomas e evitar complicações, como também para restaurar a capacidade de alimentação normal e melhorar a qualidade de vida. Um diagnóstico atempado permite ainda evitar terapêuticas ineficazes e exames complementares desnecessários, dado que muitos doentes são inicialmente tratados como se tivessem doença do refluxo gastroesofágico, atrasando o reconhecimento da esofagite eosinofílica.
O diagnóstico requer a realização de uma endoscopia digestiva alta com colheita de múltiplas biópsias esofágicas, essenciais para a identificação da infiltração eosinofílica. Embora exames laboratoriais e testes de alergia possam ser úteis em contextos selecionados, sobretudo em idade pediátrica, o seu valor no diagnóstico da EE em adultos é bastante limitado e não devem ser usados isoladamente com esse fim.
O tratamento da EE pode envolver abordagens dietéticas, farmacológicas e, em alguns casos, terapêutica endoscópica. As dietas de exclusão têm como objetivo identificar alimentos responsáveis pela inflamação, sendo uma opção segura, mas que exige tempo, dedicação e seguimento conjunto por Gastrenterologia e Imunoalergologia. A terapêutica farmacológica com inibidores da bomba de protões ou corticoides tópicos mostra-se eficaz na maioria dos casos, permitindo maior flexibilidade alimentar. Em situações mais graves ou com estenoses refratárias, pode ser necessária dilatação endoscópica. Mais recentemente, em doentes com resposta inadequada à terapêutica convencional, está disponível uma opção de tratamento biológico aprovada a nível europeu, com eficácia demonstrada na indução e manutenção da remissão.
Perante a suspeita clínica de EE, é essencial encaminhar o doente precocemente para a Gastrenterologia, de modo a confirmar o diagnóstico, instituir terapêutica apropriada e prevenir a progressão da doença.
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia assinala o Dia Mundial da Esofagite Eosinofílica por forma a aumentar a consciencialização para esta doença, o seu diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Para mais informações consulte: www.saudedigestiva.pt