A CEiiA é um centro de desenvolvimento e engenharia português que conta com várias instalações no Alentejo. A empresa chegou à região para trabalhar mais de perto com a EMBRAER Portugal, uma produtora de aviões multi-nacional que opera a partir do Parque da Indústria Aeronáutica de Évora. Foi lá que começaram a ser desenvolvidos materiais para helicópteros, assim como aviões e aeronaves que incluem o KC390, um cargueiro militar que tinha como destino o Brasil. Atraindo mão-de-obra altamente qualificada, o investimento da CEiiA no Alentejo contribuiu para o desenvolvimento económico da região no passado. Em 2020, o centro de desenvolvimento acaba de assinar um novo contrato. Desta vez, a parceria será com a DESAER, outra produtora multi-nacional de aeronaves que se prepara para trabalhar num novo projecto, conhecido como ATL 100.
O que é o ATL 100?
O ATL 100 é uma nova aeronave que é descrita pelos seus produtores como um “serviço logístico”. Segundo a DESAER, esta aeronave pode ser utilizada em missões complexas e é perfeita para aceder a áreas remotas e de alcance reduzido. Devido à sua dimensão limitada (albergando um total de 19 passageiros), o ATL 100 tem como principais características a maneabilidade, a segurança, a resistência, e a disponibilidade. Um produto que já atraiu o interesse de diversos clientes, o ATL 100 é uma espécie de canivete suíço aéreo que pode ser utilizado como resposta a um diverso número de problemas. Mas para os alentejanos, o mais importante é que a criação do ATL 100 passará pela região, contribuindo para um aumento do número de postos de trabalho e para um investimento de pelo menos 20 milhões de euros.
Quem o diz é Miguel Braga, o director de Aeronáutica e Defesa do CEiiA, que foi recentemente entrevistado pelo Jornal de Notícias. Segundo Miguel Braga, a parceria entre a CEiiA e a DESAER terá como vantagens imediatas a “criação de competências novas” que ainda não existiam em Évora. Mas o grande estímulo para a economia local passará pelo estabelecimento de micro-parcerias entre o centro de investigação e pequenas e médias empresas localizadas na região. Para além da criação de uma fábrica de componentes, este projecto poderá criar novos postos de trabalho em cidades como Beja, Ponte de Sôr, e Évora, onde já se encontram instalações suficientemente qualificadas para participar no desenvolvimento da aeronave. Miguel Braga fala neste ponto da criação “indirecta” de emprego, já que o objectivo passa não só por produzir os componentes necessários para a aeronave em Portugal, como também por montá-la em território nacional.
O que significa esta parceria para a actual realidade económica?
Basta ligar as notícias ou passar uma tarde no centro da cidade para perceber que vivemos num período económico excepcional. Desde o início de 2020, praticamente todo o tipo de indústrias foram altamente afectadas pelas legislações provisórias de manutenção da saúde pública. Se excluirmos excepções como os produtores de papel higiénico, os jogos de poker online, ou as aplicações digitais, quase todos os negócios do mundo registaram uma quebra de receitas no primeiro trimestre do ano. Mas o ATL 100 parece ser uma aeronave especialmente preparada para lidar com as presentes dificuldades.
No contexto económico particular que hoje vivemos, o ATL 100 parece ser um produto preparado para o futuro. Numa altura em que se esperam novas restrições relativas ao número de passageiros em aviões e aeronaves, o ATL 100 surge como um empreendimento civil e militar capaz de oferecer uma resposta positiva às dificuldades. Além disso pode ajudar a reabilitar os debilitados mercados portugueses, e a fragilizada região do Alentejo em particular.
Um futuro risonho?
Miguel Braga esclareceu que o ATL 100 surge num “momento de grande fulgor para este tipo de aeronaves” e que a CEiiA prevê que será fácil recuperar o investimento inicial de 20 milhões de euros. A ideia passa por produzir aproximadamente 5 mil aeronaves deste género ao longo dos próximos 15 anos, naquele que se traduz como um projecto ambicioso e sustentável. Neste contexto, Miguel Braga destacou o papel de Portugal no contexto do competitivo mercado da produção de aeronaves. Desenvolver aviões não é fácil, já que requer um número significativo de pré-requisitos, que vão desde uma linha de montagem eficiente até centros de investigação, que requerem o envolvimento de profissionais altamente qualificados. Portugal pode por isso tornar-se num dos poucos países da Europa onde é possível criar uma aeronave do início ao fim. A ideia de que o nosso país será capaz de exportar aviões “prontos a voar”, que possam ser trocados num mercado mundial que gera biliões todos os anos, é bastante atraente e pode ser o primeiro passo para o estabelecimento de uma indústria nacional com boas bases para crescer. E a melhor parte é que o Alentejo, muitas vezes colocado à margem da economia portuguesa, estará no centro de todo o projecto.