Associação de Pais condena encerramento do Centro de São Bartolomeu e lamenta por «não nos terem deixado fazer mais»

Já era público que a instituição estava a atravessar «uma grande fragilidade económica», tendo nos últimos meses desenvolvidos esforços para que fosse possível viabilizar a continuidade da sua actividade, mas, ainda assim, foi com alguma surpresa que os colaboradores e encarregados de educação do Centro Social e Comunitário de São Bartolomeu, em Portalegre, receberam a notícia de que a direcção já avançou com o pedido de insolvência, e que, a partir do dia 31 de Agosto, deixará de «prestar os seus serviços às crianças, famílias e comunidade».
Na informação, datada de 31 de Julho, mas que segundo a Associação de Pais e Amigos do Centro Social e Comunitário de São Bartolomeu apenas foi entregue ontem, dia 3 de Agosto, aos encarregados de educação, tendo a grande maioria tido conhecimento do pedido de insolvência primeiramente pela comunicação social e pelas redes sociais, refere a direcção que apesar de ter recorrido a um Processo Especial de Revitalização, que foi aprovado, o mesmo foi «impugnado pela entidade bancária credora», tendo a situação da instituição sido agravada ainda mais nos últimos meses com a actual pandemia».

Frisando que a pandemia «veio diminuir muito as receitas, tendo-se verificado uma redução superior a 50% do número de crianças, facto que coloca em causa o pagamento das despesas correntes e, consequentemente, o futuro da instituição», alega, justifica a direcção que perante este cenário «não reunimos condições para continuarmos a nossa actividade no próximo ano lectivo».
O encerramento desta instituição coloca em causa o emprego de cerca de 30 colaboradores, e deixa ainda de assegurar um serviço a cerca de 80 crianças, numa fase em que já foi concluído o período de inscrições nas creches e pré-escolar, o que está a ser fortemente contestado pelos encarregados de educação, que condenam não terem sido avisados atempadamente, de modo a puderem encontrar outras soluções.

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APASBart garante que verbas angariadas serão divididas pelas colaboradoras

Em comunicado enviado ao nosso jornal, a Associação de Pais e Amigos do Social e Comunitário de S. Bartolomeu – APASBart relata que, há cerca de um ano, um grupo de pais e amigos elaborou uma exposição escrita com vários exemplos que se consideravam formas de má gestão praticadas na instituição, com o intuito de alertar para a situação vivida no Centro e pedir que permitissem que «esta casa não caia de vez, aproveitando quem tem a vontade de não a deixar cair», a qual foi enviada aos membros da direcção, ao Bispo da Diocese de Portalegre e Castelo-Branco e à directora do Centro Distrital de Portalegre do Instituto de Segurança Social, assinada por vários pais e membros da comunidade portalegrense. «Obtivemos resposta por parte da direcção, a qual convidou um grupo de representantes da exposição escrita para uma reunião. Depois de várias trocas de ideias, surgiu a APASBart – Associação de Pais e Amigos do Centro Social e Comunitário de S. Bartolomeu. E no início até parecíamos todos a batalhar no mesmo sentido, mas depressa vimos que não era bem assim», referem, explicando que «realizámos, em conjunto, um churrasco, que foi um sucesso (cujo lucro a Associação nunca soube o fim), a instituição começou a vender sopas aos pais, a Associação fez várias actividades de angariação de fundos e angariou sócios. Mas rapidamente nos apercebemos que as más práticas na gestão continuavam, daí que as notícias dos últimos dias, apesar de nos terem deixado a todos em choque, não foram nada que não esperássemos que viesse um dia a acontecer», lamenta.
No comunicado pode ainda ler-se que, apesar destes esforço dos pais, «as queixas das funcionárias continuavam a chegar-nos, sempre em segredo (porque reina(va) o medo)., e a maior prova para a Associação de que a direcção não pretendia qualquer tipo de ajuda foi quando não obtivemos nenhuma resposta ao email enviado em Dezembro de 2019, e reenviado em Fevereiro deste ano, no qual questionávamos o destino do lucro do churrasco e solicitávamos uma reunião para podermos definir onde seria necessário “investir” os lucros que tínhamos angariado até então».
Segundo a Associação, até ao momento em que tiveram conhecimento da decisão de encerrar as portas da instituição por carta, não houve por parte da direcção qualquer resposta aos e-mails enviados, e, inclusive, «em Maio, aquando da reabertura da creche, decidimos questionar a directora técnica sobre que material de protecção necessitava para a Associação poder oferecer, comprámos 300 máscaras e oferecemos uma televisão e um aparelho de TDT para o ATL, informando que assim que necessitassem de mais material nós iríamos comprar», não lhes tendo sido «mais nada foi solicitado».
Este grupo de pais e amigos condena a forma como foi decidido, abruptamente, encerrar as portas desta instituição, justificando que «quando existe uma Associação criada propositadamente para ajudar a instituição e que refere ter dinheiro para o que for necessário e a direcção não dá qualquer resposta, quando se decide pelo encerramento definitivo de uma instituição com décadas de história e os pais têm conhecimento em primeira mão pelas redes sociais, quando se informa toda uma comunidade (colaboradores, pais, crianças…) de uma situação grave como esta e a directora técnica, simplesmente, vai de férias deixando as funcionárias incumbidas de entregarem as cartas aos pais, quando se fecha uma casa destas sem sequer se fazer uma projecção do número de crianças que vão estar inscritas no ano seguinte, pois nem tão pouco se abrem pré-inscrições, estamos perante o quê?!», questiona, deixando ainda a dúvida se será «má gestão» ou «pura vontade de destruir uma Instituição».
Através desta comunicado pretende ainda a APASBart apresentar publicamente «as suas mais sinceras desculpas por mais não ter conseguido fazer», alegando que «infelizmente, não deixaram», e informa «todos os sócios e toda a comunidade que contribuiu nas actividades da Associação, que o dinheiro angariado, e ainda disponível, será dividido por todas as colaboradoras credoras da instituição, que há anos que não recebem subsídios de férias e de Natal, que viram os seus empregos desaparecer, mas que foram quem sempre lutou por S. Bartolomeu e quem cuidou das nossas crianças como se fossem suas».

O Centro Social e Comunitário de São Bartolomeu é uma IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social criada por iniciativa da Paróquia de S. Lourenço, na década de 60, com sede no bairro de S. Bartolomeu em Portalegre.
No âmbito dos seus objectivos estatutários, o C.S.S. Bartolomeu, coopera «com as famílias, na educação física, intelectual, espiritual e moral dos seus filhos, mantendo em funcionamento, em regime de externato, as valências de Creche (crianças com idades compreendidas entre os 4 meses e os 36 meses), Pré-Escolar (crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos) e Actividades de Tempos Livres (crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos) ». O Centro Social e Comunitário de São Bartolomeu tem ainda uma extensão ao serviço da comunidade no bairro dos Assentos, com as respostas sociais de creche e Pré escolar «para dar resposta às necessidades das famílias deste bairro», a qual se encontra instalada, desde a sua construção, numa parte do edifício da Igreja de S. António.

Inscrições na rede pública

Na manhã de hoje, a Câmara Municipal de Portalegre informou a comunidade que, perante esta situação, foram reabertas as inscrições para frequentar a educação pré-escolar na rede pública, e que para formalizar as matrículas, os encarregados de educação devem contactar os Agrupamentos de Escolas do Bonfim e José Régio «com a maior brevidade possível, dado que se trata da abertura de um período excepcional de inscrições».

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