O humorista António Raminhos está de regresso aos palcos com “Volto Já”, o seu mais recente espectáculo de stand-up comedy, que será apresentado em Elvas na próxima sexta-feira, dia 7, pelas 21h30, no Auditório São Mateus. Conhecido pelo seu humor perspicaz e pela forma descontraída com que aborda temas sérios, Raminhos volta a transformar a comédia numa reflexão sobre a vida — e, desta vez, também sobre a morte.

Em “Volto Já”, o comediante parte do seu próprio medo de morrer — um tema que acompanha a sua ansiedade e perturbação obsessiva-compulsiva — para construir um espectáculo que mistura humor negro e histórias pessoais. Através de episódios sobre funerais, tradições fúnebres e os absurdos do quotidiano, Raminhos desafia o público a rir daquilo que mais teme: a inevitabilidade da morte.

Depois de sucessos como “Não sou eu, é a minha cabeça” e “Não prometemos para mais ninguém”, António Raminhos regressa ao palco para transformar a “indesejada visita da morte” num momento de pura comédia e leveza, celebrando a vida e o riso como formas de catarse.

Ao longo dos últimos anos, o humorista tem sido uma das vozes mais consistentes na normalização da saúde mental em Portugal, tema central dos seus espectáculos, do podcast “Somos Todos Malucos” e da sua presença nas redes sociais.

O Jornal Alto Alentejo conversou com António Raminhos sobre “Volto Já”, o medo de morrer, a importância de rir dos próprios fantasmas e a relação entre humor e saúde mental:

Alto Alentejo: Depois de espectáculos como “Não sou eu, é a minha cabeça” e “Não prometemos para mais ninguém”, o que torna “Volto Já” diferente?

António Raminhos: Acho que é o espectáculo mais “espectáculo” no sentido de ter um cenário bem idealizado para tal e o texto ser exclusivamente sobre o tema da morte. Todos os meus shows de comédia são uma espécie de storytelling. Ou seja, é uma partilha com muita coisa real lá pelo meio, com as quais se calhar algumas pessoas se vão identificar ou, pelo menos, que as pessoas entendam “este gajo está mesmo a dizer a verdade! Isto passou-lhe mesmo pela cabeça”

A.A.: Como foi o processo criativo — escreveste sozinho, testaste ideias com o público, ou deixaste o improviso guiar-te?

A.R: Quando comecei a pensar no show… talvez há um ano, comecei desde logo a reunir temas, piadas que me ia lembrando, abordagens que achei que podiam ser curiosas e engraçadas. Histórias que vivi. Depois foi o processo de construir o guião, testar algum material em bares. Tenho sempre a tendência para fazer shows longos, este ronda ali 1h25 o que, sendo já longo, permite que possa às vezes inventar lá pelo meio! Aliás, mesmo para o de Elvas há ali coisas que me lembrei apenas há uns dias…

A.A.: O espectáculo mistura temas sérios como a morte, a ansiedade e o luto, mas sem perder leveza. Como se encontra o equilíbrio entre rir e reflectir?

A.R.: Acho que acontece de forma natural. Todos nós, acho eu, já nos rimos em velórios, já partilhamos histórias engraçadas em funerais e voltamos depois a estar sérios… não é uma falta de respeito, nem estar a “chamar a morte”… é trazer leveza a temas que, por si só, já são tão pesados. Não precisam de ter sempre essa marca.

A.A.: Tens sido uma voz importante no tema da saúde mental. Achas que o humor ainda é uma boa ferramenta para quebrar tabus?

A.R.: Sim, claro. O humor é, como disse, uma forma de trazer leveza e, por isso mesmo, permite que certas ideias sejam assimiladas de uma forma mais tranquila, mais normal. 

A.A.: Para quem ainda está indeciso: por que motivo vale a pena ir ver “Volto Já”?

A.R.: Quem nunca me viu ao vivo é uma oportunidade para ver algo diferente. Não é que seja melhor nem pior, mas é seguramente diferente. O feedback destas pessoas que vão pela primeira vez geralmente é o mesmo, que é “não estava à espera de rir e ficar a pensar ao mesmo tempo…”

A.A.: Queres deixar uma mensagem especial para o público de Elvas e do Alto Alentejo?

A.R.: Que venham ao meu velório! Não há mortos, mas há caixões e cruzes!

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