Cinco anos após ter chegado a Alter em busca de uma vida melhor, Angelica Supler, de nacionalidade romena, partiu com a mesma premissa com que veio para Portugal: «conseguir melhores condições de vida».
Durante o período que cá permaneceu focou o seu trabalho de voluntariado na aproximação da cultura romena e portuguesa, deu a conhecer um novo mundo e mudou mentalidades. Na hora de assumir um novo desafio Angelica falou ao nosso jornal sobre a sua experiência e o trabalho que lhe valeu o reconhecimento do povo de Alter.
Natural da Transilvânia, terra conhecida mundialmente por causa do Conde Drácula, Angelica Supler decidiu em 2011 mudar de vida e deixar a sua terra natal em busca de uma vida melhor. Com os dois filhos e o marido partiu então nesta aventura que terminaria em Alter, terra onde já tinha alguns familiares.
«Fui professora de História na Roménia, o meu marido trabalhava na Câmara e como o mundo entrou em crise pensámos em mudar alguma coisa. Já tínhamos vindo a Portugal de férias e gostávamos muito e como a minha família já está em Alter há 14 anos decidimos vir para cá», conta.
Sem falar português, Angelica e a família chegaram a Alter, uma terra no interior do País, mas que «nos recebeu muito bem», sublinha a romena que depressa conquistou os alterenses.
«As pessoas falavam comigo e eu não percebia nada, então comecei a escrever e eles iam-se rindo», diz-nos com um sorriso envergonhado acrescentando que «eles queriam-me ajudar mas não conseguiam».
Sem trabalho e com dificuldades ao nível da língua, Angelica ficou durante alguns meses em casa para se ambientar à nova vida e cultura. «Comecei a ajudar a minha mãe nas compras e na lida da casa» e ao fim de quase um ano «percebi que tinha de fazer qualquer coisa para arranjar trabalho e fui pedir ajuda à Segurança Social».
Com a ajuda de um dos funcionários da Segurança Social, que propôs à Câmara de Alter um projecto de voluntariado na área da educação, Angelica começou a ver uma luz ao fundo do túnel e começou a perceber que poderia fazer alguma coisa.
«Comecei na área da arqueologia, mas resolvi pedir outro tipo de trabalho à Câmara e encontrei a Cecília, ela ajudou-me e tudo começou aqui», refere.
A partir daqui desenvolveu um trabalho directo na sua área de estudo e começou a contactar com a cultura portuguesa de perto. «Vi que existiam muitas semelhanças entre a história de Alter e a Roménia e vi oportunidade de fazer alguma coisa para ligar as duas culturas».
Com um trabalho e proximidade à população, Angelica entra em contacto com comunidade romena de Alter e ficou «surpreendida» com o que encontrou, uma vez que «eles sabiam muito pouco sobre a Roménia e vi que poderia fazer alguma coisa quanto a isso».
«Nesta altura pensei que tinha a oportunidade de mostrar que a Roménia existe e fiz uma proposta à Câmara para tentar aproximar os países», conta Angelica.
Começa aqui um projecto de aproximação entre culturas e que ao longo dos cinco anos incluiu exposições, actuações musicais e até um curso de Língua e Cultura Romena, do qual Angelica foi a principal impulsionadora, e que teve como objectivo dar a conhecer a sua cultura originária aos alunos do Agrupamento de Escolas de Alter.
Juntando associações, empresas, instituições e populações, Angelica conseguiu pôr de pé um projecto que a autarquia de Alter apoiou desde o início e que teve como ponto alto a parceria efectuada com a Embaixada da Roménia em Portugal e com o Instituto Cultural Romeno. «Ajudaram muito nestes projectos e conseguimos fazer muitas coisas através desta parceria», sublinha.
Apesar da sua partida Angelica sabe «que este projecto vai continuar» e ao nosso jornal revela que existe já um projecto que vai decorrer em Setembro e que envolve seis Países. «Nessa altura volto de certeza», garante a romena que assume que «sei que mudei mentalidades, mas ainda há muito trabalho a fazer».
É com o coração cheio e assumindo o «seu amor por Portugal» que Angelica e a família estão novamente de partida, justamente pela mesma razão com que chegaram a Portugal, mas desta vez o país escolhido é a Alemanha.
«A nossa ideia quando saímos da Roménia era ganhar mais e não conseguimos. Mas não vou parar só na Alemanha», revela Angélica que deixa ainda um desabafo: «eu adoro Portugal!».
Angelica Supler e a família partiram há duas semanas para a Alemanha com a esperança de uma nova vida. A ela, aos seus filhos e ao seu marido desejamos as melhores das sortes.