Amélia Bragança, a mãe coragem

Com sabedoria do alto dos seus 89 anos e, depois de todas as dificuldades que passou, Amélia não tem dúvidas que «ser mãe é a melhor coisa do mundo e é uma alegria podermos dizer que aquela é a nossa mãe. Mãe é o maior nome que há no mundo», diz.

Portalegrense de gema, mãe por natureza. Aos 89 anos, Amélia Bragança tem 13 motivos para se considerar uma «mãe completa», a que se somam mais 44 que duplicam a felicidade. Na semana em que se celebra o Dia da Mãe, assinalamos a efeméride com a história de uma mulher que foi também uma guerreira e é o exemplo vivo do verdadeiro significado de mãe.

«Ainda não lhes perdi a conta» diz, com a gargalhada que lhe é característica, Amélia Bragança ou Ti Amélia, como é conhecida na cidade que a viu nascer. Pequenina, mas com um grande coração, esta mulher, prestes a completar 90 anos, teve uma vida recheada e, apesar das dificuldades, não perde o sorriso.

Viveu sempre em Portalegre, «primeiro no campo e só depois na cidade», numa altura em que o trabalho começava desde a mais tenra idade e em que a família tinha outro significado.

«Tinha sete irmãos, quatro raparigas e três rapazes», diz-nos Ti Amélia, que relembra os tempos difíceis que viveu e que estão hoje espelhados no seu rosto. «Comecei a trabalhar aos 9 anos no campo, ali para os lados da Abadessa (onde actualmente se localiza a ESTGP)». «Ceifávamos, colhíamos batatas, fazíamos tudo. Era muito difícil», explica Amélia.

Mas nem tudo foram más recordações foi no campo que conheceu o amor da sua vida e o pai dos seus filhos. «Eu andava a trabalhar e o meu marido andava sempre com o meu cunhado e com outro rapaz e lembro-me de ele vir atrás de mim e dizer: “A tortulha pequenina nunca está quieta vai sempre aos pulinhos”»

Assim começou um amor que durou 60 anos e que ao início não era bem visto. «A minha patroa não queria que eu casasse com ele porque dizia que ele bebia muito», confessa Amélia sublinhando que «naquela altura não se namorava sem se pedir autorização aos pais». «Às dez horas o meu pai começava a mexer no lume com a tenaz e o meu marido já sabia que tinha de ir embora», recorda.

O namoro durou dois anos, depois o jovem casal decidiu juntar-se com o apoio do pai de Amélia, apesar dos rumores. «Eu pedi ao meu pai para namorar com ele e disse-lhe que ele tinha fama de bêbedo e o meu pai respondeu-me: “também eu bebo muito e sempre governei a tua mãe”», recorda. A partir daqui Amélia e o marido começaram a viver juntos e a família começou, naturalmente, a crescer.

Amor de Mãe

Depois de quase dois anos a viver com o marido, Amélia tem o primeiro filho aos 19 anos, mas a família continuou a aumentar. «Foi por acaso, não planeámos nada», diz-nos Amélia que justifica que «naquela altura não havia televisão por isso tínhamos de nos entreter de outra forma».

Numa época marcada pela pobreza e em que os serviços de saúde não estavam acessíveis a todos os partos eram feitos em casa e muitas vezes sem assistência. Assim foi também com Amélia que dos 13 filhos, apenas três nasceram no Hospital. «Só tive complicações no parto do meu filho mais novo porque ele não deu bem a volta e ficou atravessado, mas no final ficou tudo bem».

Sendo a mais nova dos irmãos, Amélia nunca teve a percepção do que era ser mãe. «Nunca vi a minha mãe a mudar fraldas nem a dar banho aos meus irmão», diz-nos, recordando que «passei muitas dificuldades para criar os meus filhos». «Era muito complicado tinha de lavar a roupa, limpar a casa e tratar do miúdos», disse Amélia que revela que contou com a ajuda da sua irmã que considera «uma segunda mãe».

«A minha irmã é que me ajudou a criar os meus filhos era ela que me dava, batata, arroz, hortaliça e muitas vezes dinheiro».

Apesar das dificuldades, Ti Amélia revela que não se arrepende das dificuldades de que passou e do que lutou pelos seus filhos e recorda o momento em que recusou dar três dos seus filhos. «Recusei e voltava a recusar porque eu não queria que os meus filhos passassem por mim e dissessem «ali vai a mãe que me teve, mas que não me criou».

A dor de perder um filho

Dos 13 filhos que deu à luz apenas restam nove, uma vez que quatro já partiram. Como consegue uma mãe suportar a dor de perder um filho?

Perante a pergunta Amélia é peremptória: «Existem três amores que são muito diferentes entre si. O amor de mãe é um, o dos nossos maridos é outro e o dos nossos filhos é do nosso coração», refere emocionada Ti Amélia que acrescenta que a morte de um filho «é a maior dor que existe no mundo».

Mãe pela segunda vez

Actualmente a família Bragança cresceu e aos 13 filhos que Amélia teve juntaram-se 24 netos e 20 bisnetos. «Tenho-os a todos no meu coração», diz-nos ao recordar que ajudou a criar muitos dos netos, pelos quais tem um «grande carinho».

«Nunca dei uma nalgada aos meus netos, respeito tanto uma criança como uma pessoa adulta», referem lembrado que «eles não davam trabalho nenhum».

Mas para além de filhos, netos e bisnetos, no coração de Amélia cabem ainda muitos “filhos e netos emprestados” que foi ganhando ao longo dos anos. «Tenho muitas pessoas que me chamam mãe e avó», refere garantindo que «é sinal que as pessoas gostam de mim».

Com 89 anos Amélia Bragança condena «os filhos que maltratam as mães» e confessa que sente «muito orgulho dos seus filhos».

«Tenho-os a todos no coração. Um filho é o maior amor de uma mãe», confessa Ti Amélia que garante que «vou ser mãe até fechar os olhos».

Com sabedoria do alto dos seus 89 anos e, depois de todas as dificuldades que passou, Amélia não tem dúvidas que «ser mãe é a melhor coisa do mundo e é uma alegria podermos dizer que aquela é a nossa mãe. Mãe é o maior nome que há no mundo», diz.

Publicidade