Num país desigual, o solicitador é o rosto da justiça que não esquece o interior.

Em Portugal, o interior do país tem sido, ao longo das décadas, sinónimo de resiliência, mas também de esquecimento. Entre distâncias, serviços públicos reduzidos e uma população cada vez mais envelhecida, o acesso à justiça torna-se, muitas vezes, um desafio. É neste contexto que o papel do solicitador ganha um valor social extraordinário: ele representa a ponte entre o cidadão e o sistema jurídico, garantindo que a lei chegue a todos, mesmo aos que vivem longe dos grandes centros urbanos.

Mais do que um técnico do direito, o solicitador é, no interior, um verdadeiro agente de cidadania. É ele quem explica, de forma simples e humana, questões legais que para muitos seriam incompreensíveis. Quando alguém precisa de tratar de uma herança, regularizar um terreno, resolver uma disputa entre vizinhos ou simplesmente perceber um documento oficial, o solicitador é a pessoa a quem se recorre.

Conhece as pessoas, as famílias, as tradições e as particularidades da terra — e é essa proximidade que torna o seu trabalho tão relevante.

Enquanto nas grandes cidades há escritórios de advogados em cada esquina e tribunais com recursos mais completos, nas aldeias e pequenas vilas o cenário é bem diferente. A deslocação a uma cidade pode implicar dezenas de quilómetros, custos de transporte e perda de tempo. Para muitos, o solicitador local é o único apoio jurídico acessível, alguém que traduz a linguagem da lei e a adapta à realidade concreta das pessoas. É, por isso, uma figura essencial para assegurar que o princípio da igualdade perante a lei se cumpre verdadeiramente.

A função social do solicitador vai muito além da resolução de problemas. O seu trabalho é também preventivo. Através do aconselhamento e da mediação, o solicitador evita que conflitos simples se transformem em longas batalhas judiciais. Ajuda a esclarecer dúvidas, a orientar decisões e a promover o diálogo — contribuindo para uma sociedade mais pacífica e informada.

Num tempo em que a burocracia e o distanciamento institucional ainda afastam muitos cidadãos dos seus direitos, esta capacidade de proximidade é um bem precioso.

Não se pode ignorar que os solicitadores do interior enfrentam desafios próprios: a falta de jovens profissionais, o encerramento de serviços públicos, a escassez de tribunais e a desertificação humana tornam o seu trabalho mais exigente. No entanto, é precisamente nesses contextos que a sua missão se torna mais nobre.

O solicitador é, por natureza, alguém que serve a comunidade, e nas regiões do interior isso significa, muitas vezes, ser um pilar de confiança, um conselheiro e até um mediador social.

Com a transição digital dos serviços públicos e judiciais, o solicitador assume ainda um novo papel: o de ajudar os cidadãos a navegar pelo mundo online. Muitos idosos ou pessoas com menos literacia digital recorrem a estes profissionais para submeter documentos, preencher formulários ou tratar de registos eletrónicos.

Assim, o solicitador combate não só a desigualdade jurídica, mas também a exclusão digital que ainda afeta grande parte da população rural.

No fundo, falar da função social do solicitador no interior é falar de proximidade, de humanidade e de compromisso. É reconhecer que o direito não vive apenas nos tribunais, mas nas relações de confiança que se constroem nas comunidades.

O solicitador é o rosto da justiça quotidiana — aquela que se faz com empatia, escuta e sentido de dever.

Porque a justiça só é verdadeira quando chega a todos, e é graças aos solicitadores do interior que muitos cidadãos continuam a sentir que o Estado de Direito está presente nas suas vidas.

Num país que precisa urgentemente de revalorizar o seu interior, o solicitador é, sem dúvida, um dos guardiões silenciosos da coesão social e da igualdade.

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