Artigo de Opinião de Ana Verónica Varela, Internista do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve – Hospital de Faro e membro do grupo J-SPAVC, da Sociedade Portuguesa do AVC
Em Portugal, segundo o Institudo Nacional de Estatística (INE), o Acidente Vascular Cerebral (AVC) está na origem do maior número de óbitos representando 9,8% da mortalidade em 2019. É igualmente reconhecido que a hipertensão arterial é o principal fator de risco modificável para as doenças cerebrovasculares, incluindo o AVC. Relacionando estes dois últimos factos podemos caracterizar a hipertensão arterial como um grave problema de Saúde Pública, com o qual nos debatemos atualmente.
Aumentos na pressão arterial causam lesão vascular cumulativa e progressiva em vários orgãos do corpo humano, incluindo o cérebro. O culminar destas alterações no cérebro são um episódio de AVC. Embora a hipertensão arterial esteja mais intimamente ligada com o AVC hemorrágico, também existe uma relação direta e indireta com o AVC isquémico, dependendo do seu subtipo etiológico. Contudo, e independentemente do tipo de AVC a que nos referimos, para além da mortalidade, já acima mencionada, também é importante alertar para a morbilidade do AVC, que consiste em alterações cognitivas e limitações funcionais e de linguagem com as quais os sobreviventes de AVC são confrontados.
Por mais que o tratamento do AVC agudo tenha avançado nos últimos anos a aposta principal é na PREVENÇÃO da sua ocorrência através do controlo dos fatores de risco que estão na sua origem.
Uma percentagem considerável dos portugueses é hipertensa e desconhece que o é! Torna-se, assim, fundamental o diagnóstico e tratamento precoces como meio de prevenção do AVC primário e recorrente.
A estratégia passa por sensibilizar a população para esta doença silenciosa, apostando também no regular acompanhamento pelos cuidados de saúde primários (Médicos e Enfermeiros de Família), assim como rastreios populacionais ocasionais, que são preponderantes no diagnóstico da hipertensão arterial.
Após o diagnóstico, e de acordo com os valores de pressão arterial, são tomadas atitudes farmacológicas/terapêuticas individualizadas. Fomentar a consciencialização da gravidade da doença na sua globalidade, incentivar a adesão terapêutica, instituir mudanças e hábitos de vida saudável e reforçar a necessidade de seguimento regular pelo Médico de Família são partes importantes da estratégia global na prevenção do AVC.
Muitas vezes desvalorizadas, as alterações de estilo de vida são importantes adjuvantes e diminuem, na globalidade, os eventos cardiovasculares e não só os AVC’s. Falamos de: redução na quantidade de sal ingerida, moderação do consumo de álcool, cessação tabágica, redução de peso e manutenção de peso ideial e actividade física regular assim como consumo elevado de legumes e frutas.
Está desmostrado que uma redução de 10mmHg na pressão arterial sistólica ou uma redução de 5mmHg na pressão arterial diastólica está associada a reduções significativas na ocorrência de AVC’s em aproximadamente 35%. Portanto, é fundamental sensibilizar, diagnosticar e tratar a hipertensão arterial de modo a prevenir a morbilidade e a mortalidade associada ao AVC.
Vamos prevenir para não ter que remediar??!