Foi o Papa Paulo III que em 21 de Agosto de 1549 assinou a carta solene, chamada Bula, através da qual cria a Diocese de Portalegre, indica o seu primeiro Bispo, D. Julião de Alva, eleva a Vila de Portalegre a Cidade, e determina tudo o que é necessário para sua plena concretização. Uma segunda Bula, com a mesma data, indica as vilas, povoações e lugares que integram a nova diocese. O território da nova diocese é desmembrado do da Guarda. Abrange sobretudo terras de além Tejo, então integradas na diocese da Guarda d’ Além Tejo), e algumas na arquidiocese de Évora, Arronches, por exemplo.
As diligências prévias para a criação da nova diocese partem da iniciativa do Rei D. João III. Houve que responder a exigências da Santa Sé, tarefa difícil, de que dá conta o Embaixador Baltazar de Faria, em cartas ao Rei, durante 1548. D. João III foi-lhe dando indicações. As resistências foram vencidas e as exigências satisfeitas. E a diocese foi criada.
D. Julião de Alva, antes cónego da Sé de Lisboa e capelão de D. Catarina, esposa de D. João III, entra na sua diocese, através dos seus Procuradores, em 16 de Junho de 1550. Aqui está até 1560. Quando chega a Portalegre, em data indeterminada, empenha-se logo em duas tarefas prioritárias: a edificação da nova catedral, a que hoje ainda nos serve, bem próxima da igreja de N. Senhora do Castelo, inicialmente escolhida para Sé; e a instituição do Cabido catedralício. A primeira pedra foi lançada em 14 de Maio de 1556. Entretanto, foi adquirindo moradias de residentes, para a devida edificação. Através de alvarás, D. João III facilita o andamento da nova catedral: licença para adquirir as casas no local, bois para o carreto de pedra, trazida de vários locais, requisição de Mestres e de servidores, cal, lenha e fornos da vila de Marvão ou de outros lugares. Danos e indemnizações eram à custa do Bispo. O Cabido foi por ele instituído por carta de 25 de Setembro de 1556, deu-lhe os Estatutos e o respectivo Regimento. Além disso, inicia as Visitações às diferentes igrejas da cidade, segundo o espírito renovador do Concílio de Trento (1545-1563). À igreja de S. Maria do Castelo fez oito, de Dezembro de 1550 a Fevereiro de 1558.
Os imediatos Sucessores de D. Julião prosseguiram a acção deste, sobretudo no que toca à edificação e ornamentação da Catedral. São de mencionar D. André de Noronha; D. Fr. Amador Arrais; D. Diogo Correia e D. Rodrigo da Cunha. Sobre a sua acção na Catedral escreveu o Pe. Diogo Soto Maior, no seu livro Tratado da Cidade de Portalegre (1619).
Além do Papa Paulo III (1534-1549), falecido em 11 de Novembro de 1549, intervêm em todo o processo consequente, confirmando e orientando a execução das Bulas deste, os Papas Júlio III (1550-1555), Paulo IV (1555-1559) e Sisto V (1585-1590).
O processo da execução das duas Bulas de Paulo III, na fase inicial (1550-1552), é levado a cabo pelos Bispos de Angra, D. Rodrigo Pinheiro, e de S. Tomé, D. Bernardo de Sousa, na sua qualidade de deputados e Juízes escolhidos para o efeito. São eles que procedem à escolha da igreja e do local para a nova catedral, para o que ouvem cinco testemunhas, cada qual por sua vez, que se pronunciam por unanimidade pela igreja de Santa Maria do Castelo. Como Juízes no final do processo, decidem criar a nova paróquia de Santa Maria do Castelo, agregando a esta as paróquias de Santa Maria Maior (convento de Stº Agostinho, onde hoje está o comando da GNR) e a de S. Vicente, localizada no actual largo do mesmo nome.
O território da diocese de Castelo Branco, criada em 1771, e simplificando, após a sua extinção (1881), foi integrado na diocese de Portalegre, o que desagradou aos fiéis daquela zona. A partir de 1918, diligenciaram no sentido de a extinta diocese ser restaurada, o que não veio a acontecer. Por acção de D. Agostinho de Moura (1957), a Santa Sé aceitou que a diocese fosse designada de Portalegre-Castelo Branco.
No próximo dia 21 de Agosto, comemora-se pois o 475º aniversário da criação desta diocese única. A pedido de D. Antonino Dias, a Santa Sé emanou dois decretos da Penitenciaria Apostólica, em latim, com data de 17 de Julho do corrente ano, no âmbito do Jubileu Diocesano destas comemorações, (21.08.2024 a 21.08.2025), ambos visando o bem espiritual dos fiéis, num dos quais lemos: “O Papa Francisco, benignamente concede ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Padre Antonino Eugénio Fernandes Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco, que, no Jubileu Diocesano, em dia a escolher segundo a utilidade dos fiéis, depois de oferecido o divino Sacrifício, ofereça a todos os fiéis cristãos presentes que, verdadeiramente arrependidos e impelidos pela caridade, assistirem aos mesmos ritos sagrados, a Bênção papal com a Indulgência plenária anexa, a lucrar nas condições costumadas (Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração segundo a intenção do Sumo Pontífice).
Os fiéis cristãos que devotamente receberem a Bênção papal, embora, por circunstância razoável, não participem fisicamente nos ritos sagrados, poderão obter a Indulgência plenária, desde que sejam seguidos com piedosa intenção da mente os próprios ritos, enquanto são realizados, difundidos através dos instrumentos de comunicação.”
Todos os diocesanos são convidados a peregrinar no dia 21 de Agosto próximo, à Catedral de Portalegre, na abertura solene destas comemorações. O programa deste dia é este: 15:30, acolhimento; 16:00: conferência pelo Deão do Cabido, Cón. Bonifácio Bernardo: Os Documentos fundacionais da diocese de Portalegre; momento musical pelos Euterpe Five; visita à exposição Bispado de Portalegre – 475 anos, na própria catedral; 18:00: Solene Eucaristia, presidida pelo Senhor Bispo, D. Antonino Dias.
Estão ainda programadas cinco peregrinações jubilares, por arciprestados, nas seguintes datas: 15 de Setembro de 2024 (arciprestado de Portalegre); 22.09. (arciprestado de Castelo Branco); 29.09. (arciprestado de Sertã); 16.10. (arciprestado de Ponte de Sor); e 20.10. arciprestado de Abrantes).
A nossa Catedral foi reabilitada em 2021-2022. Durante as obras, houve visitas guiadas para grupos específicos e para grupos gerais. Estas visitas guiadas têm continuado. Claramente, tem crescido o número de visitantes. Os turistas ficam admirados com a beleza e a singularidade deste monumento icónico. Ninguém sabe até que ponto a contemplação dos retábulos das capelas com as suas cenas bíblicas e de vida dos Santos, mais de uma centena, tocam o coração das pessoas. Também por esta razão, vale a pena uma visita, nestas datas jubilares ou em qualquer dia.
Texto da autoria do Pe. Bonifácio Bernardo