No dia 10 cumprem-se 100 anos sobre a constituição da Associação da Casa do Alentejo, a casa regional com mais ênfase na capital do País e “mãe” de todos os alentejanos na diáspora pela Zona Metropolitana de Lisboa. O Alto Alentejo esteve na nossa Casa, que (re)visitou com detalhe e agrado, e falou com a Direcção presidida por João Proença que tem sobre os seus ombros a condução da embaixada desta Nação que é o Alentejo em Lisboa, e falou-se da data marcante que é o centenário, sobre o passado, o presente e o futuro.
Não há quem não conheça a Casa do Alentejo em plena Baixa Pombalina, a na Rua das Portas de Santo Antão.
O antigo Palácio dos Condes de Alverca, ligado à família Paes do Amaral, e mais tarde Casino. Muitos não temos é a noção de que constantemente entram turistas para apreciar a Casa, em particular o Pátio Árabe.
A Taberna, junto ao Pátio Árabe, coim esplanada, sala de petiscos e outras salas anexas é mais recente e resultou da rentabilização de um amplo espaço que estava que estava arrendado e ficou recentemente devoluto, sendo aproveitado para aquele que é hoje um grande chamariz da Casa do Alentejo, pelo seus petiscos típicos alentejanos.
No segundo andar temos o excelente restaurante, com duas salas imponentes um fabuloso património azulejar, uma delas um antigo pátio – jardim de inverno.
E depois temos as salas de reuniões, o espaço reservado às salas da Direcção, com sala de reuniões onde se mostra algum do muito património da Casa, incluindo o original do Tratado de Badajoz do período da “Guerra das Laranjas”. E temos os dois emblemáticos salões de eventos, palco dos grandes bailes de décadas anteriores e que muito contribuíram como agregador dos alentejanos em Lisboa.
Recebidos pelo presidente João Proença, de Borba, pelo vice-presidente Manuel Alberto Verdugo, de Sousel, e pelo vogal João Torrado de Barrancos, o nosso jornal, que é lido na Casa do Alentejo, encontrou a franqueza alentejana na visita guiada, no almoço partilhado, na conversa franca e na despedida simpática e amiga. Um Alentejo inteiro!…
Desde 1923
A associação foi constituída em 1923, tendo havido antes várias tentativas, explica o presidente João Proença, e assim se deu corpo à Casa do Alentejo que se instalou no Bairro Alto. Depois em 1932 veio para este espaço nas Portas de Santo Antão, o qual foi adquirido em 1982, passando a ser património da Casa do Alentejo.
Nas primeiras décadas acolhiam-se as pessoas que vinham do Alentejo, ajudava-se a organizar as famílias, proporcionavam-se apoios sanitários, convívios e em particular bailes, proporcionava-se cultura e chegou mesmo a haver uma escola na Casa do Alentejo.
Claro que também acabava por se apoiar informalmente na procura de emprego, ajudava-se nos transportes porque ia-se à terra uma vez por ano, não é como agora, e eram os estafetas que traziam os mimos da terra. Entretanto a associação cresceu e passou a ter um boletim e posteriormente uma revista de grande importância cultural e etnográfica.
As pessoas de Lisboa acolheram-nos com simpatia e solidariedade, e esta é uma casa de solidariedade, sublinha João Proença, que aponta datas marcantes na vida da associação, nomeadamente 1932, quando foi arrendada a casa e 1982 quando foi comprada, um marco fundamental, porque a Casa do Alentejo não seria o que é hoje se não tivesse sido comprado o prédio a prestações e com empréstimos e fianças dos alentejanos, que na altura havia muitos a trabalhar aqui na Baixa de Lisboa.
Por isso foi possível comprá-la e arranjá-la, pois estava degradada e por isso os proprietários a venderam. A sua recuperação foi uma preocupação e a manutenção é permanente, havendo sete funcionários para a limpeza e manutenção, sendo de 42 o número total de funcionários da Casa do Alentejo.
Investimos e esta é uma casa de Cultura, mas a Cultura não é subsidiada e apenas um pouco apoiada, de modo que a actividade empresaria é fundamental para a sobrevivência da Casa do Alentejo.




A restauração é o suporte financeiro e também promove o Alentejo, pois a cozinha é em parte alentejana. Aos almoços a oferta é muito da cozinha alentejana, se bem que aos jantares é mais ampla a oferta porque se destina mais a turistas que não estão familiarizados com a nossa cozinha. Mas já a Taberna, que funciona permanentemente, é muito à base de petiscos alentejanos e tem muitos clientes alentejanos.
Depois há a cedência de salas para reuniões e outros eventos, mas isso não tem relevância económica, pois é mais cedência que aluguer. Há muito pedidos para isso, desde como apresentação de livros, etc., e normalmente nã recusamos.
Esta é uma casa aberta e os turistas entram e não pagam, se bem que haja o problema de não haver sanitários públicos na Baixa e depois são usadas as nossas casas de banho, mas a Casa tem uma função social importante para os alentejanos mas também para os lisboetas. Claro que o presidente da Câmara de Lisboa está alertado para este problema, mas por outro lado os nossos sócios são autênticos vigilantes e apoiantes, pois os alentejanos são francos e honestos.
Pela dimensão da Casa, aberta todos os dias, e pelo grande afluxo de visitantes é necessário haver regras. Assim abrimos às 10h e até às 12h é só visitável o pátio, depois abrimos para os almoços e circula-se, mas das 15h às 17h voltam a estar fechados os espaços à excepção do pátio, depois volta a abrir para o jantar. Claro que a taberna, contígua ao pátio, está sempre disponível.




Este é um espaço onde as pessoas se encontram mas a Entidade Regional de Turismo aproveita mal a Casa do Alentejo, pois o Alentejo devia estar aqui mais presente através da ERTA, até pelo grande número de turistas que aqui entra diariamente. Já as Câmaras vão aproveitando o espaço que é sempre oferecido e não cobramos nada.
Ao Ranchos, Grupos Corais e outros que aqui vêm fazer animação vão sempre comidos e bebidos, pois não pagamos transportes mas a mesa mas daqui não sai ninguém de barriga vazia.
Apoio aos projectos do Alentejo
Conhecemos bem as dificuldades do Alentejo e gostávamos que os alentejanos voltassem ao Alentejo. Apoiamos sempre as grandes causas importantes para o Alentejo como as acessibilidades, a rede viária, a questão ferroviária, a barragem do Pisão, pois a água é essencial, o aeroporto de Beja.
Évora Capital Europeia da Cultura e a possível candidatura de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO merecem toda a atenção da Casa do Alentejo
… e os jornais do Alentejo estão aqui presentes para as pessoas, até porque o papel ainda é importante para muitos sócios.
Celebração do centenário
A celebração do centenário é muito importante e vai ocorrer ao longo do ano, mas o 10 de Junho é uma marca e convidámos as outras casas regionais de Lisboa para aqui estarem connosco, até porque apoiamos as outras casas regionais e as concelhias que não têm o mesmo espaço que nós e cedemos-lhes os espaços para todos os eventos, tal como por exemplo o Município de Vila Velha de Rodão realiza aqui os seus eventos, mas também Cabo Verde, São Tomé ou o Brasil aqui realizam eventos porque todos têm aqui a porta aberta e a nossa actividade económica permite-nos estes apoios.
No 25 de Abril foi inaugurada uma escultura comemorativa dos 100 anos, a 5 de Outubro vamos apresentar um livro sobre o centenário da Casa do Alentejo e em redor de 15 de Novembro teremos aqui um grande espectáculo.
O Presidente da República e o presidente da Câmara de Lisboa estarão aqui, o que não era possível no 10 de Junho.
O 25 de Abril é muito importante para a Casa porque permitiu o aumento do número de sócios. É preciso lembrar que aqui foi um Casino e deixou de ser, mas não deixou de haver jogo, para além dos grandes bailes, e por isso só podia ser sócio quem se apresentasse de gravata, o que terminou após o 25 de Abril e permitiu a entrada de muitos novos sócios.
Atenção ao futuro
Vamos continuar a ter muita atenção aos concelhos e muitos Municípios são sócios da Casa do Alentejo (e todos o deveriam ser, acrescentamos nós).
Estamos também a apostar nas escolas que vêm ao teatro, aos espectáculos do La Feria (no Politeama, a dois passos, na mesma rua) e depois vêm aqui comer, não interessa se trazem lanche ou compram. As escolas fazem isso e é importante porque as crianças aos sete anos conhecem logo a Casa do Alentejo, e para os professores e monitores é um descanso porque os miúdos aqui estão em segurança.
Já os estudantes universitários “é mato” na nossa taberna, pois podem estar, usar a internet e nem são obrigados a consumir, o que não acontece em mais nenhum espaço de Lisboa. E depois trazem os amigos
Futuro promissor
Desejamos que no futuro haja mais sócios disponíveis para os corpos sociais.
Actualmente o número total de sócios é de 1.500 e metade paga as quotas e a outra metade vai oscilando, mas já chegámos a ser 3.000 quando aqui na Baixa havia os bancos, os seguros e o comércio com muito alentejanos, mas agora estão mais na periferia.
O futuro da Casa do Alentejo é promissor, se bem que com a pandemia foi um grande susto. Tivemos de suspender projectos mas não parámos. Tínhamos 400 mil euros para pagar aos funcionários porque era justo mantê-los cá, mas tínhamos também as contas correntes com os fornecedores. Os apoios começaram a chegar seis meses depois mas só para quem não devia nada e tinha as contas todas certas nas Finanças e na Segurança Social. A Câmara de Lisboa acabou por nos apoiar com 180 mil euros, o que foi muito bom, e também o Governo com verbas regulares, e tivemos no total 260 mil euros de apoios, o que permitiu encarar o futuro com optimismo.

Experiência rica
João Proença leva 20 anos e vai no sétimo mandato na Direcção da Casa do Alentejo. Assume que é uma experiência rica, até porque temos de estar quando presentes quando é preciso e não se pode estar aqui por frete.
Antes esteve quatro mandatos como presidente da Câmara de Borba. João Proença lembra que primeiro estive numa empresa, depois na Câmara e a seguir aqui, mas onde gostei menos se calhar foi na Câmara, porque aqui os contactos são inúmeros, as solicitações constantes e o trabalho é real, mas não vou estar muito mais anos aqui.