A Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Portalegre foi palco de uma Tertúlia intitulada “Alentejo e Beira Baixa. Deambulações literárias entre dois territórios”, um evento que celebrou a literatura como instrumento de preservação da memória e valorização do território.
Realizada no Auditório Abílio Amiguinho, a tertúlia contou com a presença de autores e personalidades ligadas ao mundo académico e jornalístico. Teve como ponto de partida duas obras que dão voz ao passado e às vivências de comunidades do interior da Beira Baixa e do Alentejo: “Ai, Alentejo… Memórias Rurais”, de Abílio Maroto Amiguinho e “Sipote, uma aldeia do Pinhal”, de Luís Farinha.
A conversa cruzou experiências e afectos, tendo sido moderada com a profundidade e a sensibilidade de Fernando Alves (colaborador externo da Antena 1 e autor da rubrica diária “Os dias que correm”, também ele com origens familiares na Beira Baixa), tendo contado também com a intervenção do editor Fernando Mão de Ferro, responsável pela Editora Colibri.
Durante a conversa, falou-se de recordações, cheiros, paisagens, protagonistas, episódios da vida rural e de muitos afetos. Recordaram-se tempos de infância vividos no campo, da relevância dos laços sociais e económicos comunitários, do esvaziamento demográfico destes territórios, bem como das suas potencialidades e possíveis caminhos futuros. O pretexto para esta sessão partiu da ideia de que é mais o que une estes dois territórios, separados pelo Tejo, do que o que os separa, demonstrado por exemplo nas vivências quotidianas, nos modos de vida, nos costumes e usos, na música popular e nos fluxos migratórios sazonais, registados na gíria popular como migrações dos “ratinhos”.
Esta ligação entre os dois territórios encontra, aliás, registo na história desde os tempos dos romanos até aos nossos dias, passando pelo domínio do Priorado do Crato, e da Casa do Infantado, constituindo centralidades de outrora, secundarizadas pelo período do “Eldorado Africano”, e mais recentemente, pelo processo de litoralização do território continental português.
Os intervenientes sublinharam a importância de fixar em livro as vivências das populações, promovendo a intergeracionalidade e o diálogo entre territórios, num tempo em que o interior do país continua a enfrentar desafios significativos de coesão e desenvolvimento.
Este momento foi também uma homenagem à identidade dos territórios do interior, àqueles que neles nasceram, viveram e resistiram. Uma celebração da palavra como lugar de encontro, memória e futuro.
A tertúlia integrou-se nas comemorações dos 40 anos da ESECS, reforçando o compromisso da instituição com a cultura, a educação, a transferência de conhecimento, o debate de ideias e a valorização das identidades locais.




