Páscoa 2021: Mensagem do Arcebispo de Évora (c/vídeo)

Caros Diocesanos, saúdo-vos cordialmente em Nosso Senhor Jesus Cristo!

1 – Iniciamos o mês de abril de modo desafiante. É que a celebração do Tríduo Pascal: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo são para nós incentivo e desafio a um renovado começo de vida na Esperança e na alegria.

Devido ao contexto pandémico, celebraremos o Tríduo Pascal de modo atento e cumpridor das normas prescritas, evitando todas as manifestações da religiosidade popular realizadas no exterior dos templos, como entre nós, Alentejo e Ribatejo, as tradicionais procissões do “Enterro do Senhor” e, em algumas localidades, as “Procissões da Ressurreição”, marcadas pela alegria em Cristo Ressuscitado presente na Eucaristia,  solenemente transportado em adoração, louvor e bênção, pelas ruas das  localidades que realizam este momento repleto de significado.

Neste ano 2021, somos convidados a viver uma Páscoa que sublinha a intimidade pessoal e familiar com Jesus. Sem manifestações exteriores, fica o espaço do nosso coração disponível para que a Graça de Deus habite em nós de modo mais consciente e profundo. Será na nossa interioridade que poderemos viver a Páscoa de modo mais profundo, contemplativo, libertador e, por isso, com renovada alegria interior e compromisso comunitário, com todos os irmãos de Jesus, os seus discípulos.

Eis, um modo sóbrio de viver a alegria da ressurreição no meio da incerteza, pelas muitas perguntas sem respostas seguras e definitivas; por vezes, no meio de sofrimentos, cansaços e lutos. Deixemos que a Páscoa aconteça em nós como um Dom Maior, no desafio da Esperança que nos leva à alegria interior por sabermos que o Senhor está vivo, permanece connosco e é sempre Libertador.

2- Da Páscoa brota o mandato do anúncio missionário. É missão de todos os Discípulos testemunharem a Esperança, proclamarmos o Kerigma, o fundamental cristão: O filho de Deus fez-se Homem, habitou no meio de nós, e por nós e por nosso Amor, deu a vida, sofrendo a Paixão, morte e sepultura, ressuscitou ao terceiro dia, conforme o prometido pelas Escrituras e estará connosco até ao fim dos tempos. Se Cristo não ressuscitou, como já advertia São Paulo, é vã a nossa fé (cfr 1Cor 15, 14). Sem a ressurreição só poderíamos dizer que Jesus viveu. É porque ressuscitou que O celebramos no meio de nós e o proclamamos Senhor e Salvador.

Como sabemos pelo rico magistério da Igreja, uma igreja «docens» é inseparável de uma Igreja «discens».  Isto é, só pode ensinar quem se dispõe a receber e a crescer no amadurecimento que nos vem da escuta da Palavra de Deus e da compreensão, pela experiência, do significado profundo dos mistérios da Fé. Por isso, estes tempos difíceis, podem converter-se também em tempos providenciais de sementeiro, isto, se estivermos dispostos a exercitar mais a dimensão discente da Igreja. De facto, é hora de graça, kairós, para revisitarmos, ou mesmo conhecermos o essencial da fé, para a testemunhar de modo aprofundado diante dos homens, mulheres e jovens do nosso tempo.

Estes tempos são convite à escuta, à oração e a uma certa e saudável quietude contemplativa. É vital, que nestes momentos difíceis, e marcados ainda pelo confinamento, tenhamos tempo, disponibilidade e disposição para acolher o que o Espírito quer dizer à Igreja (Ap 2,7). Não será que nestes tempos o Senhor nos pede para sermos mais uma Igreja confidente, Igreja que escuta, na certeza de que este é suporte imprescindível para sermos uma Igreja cooperante que anuncia? Não será que poderemos investir mais em nós, pela leitura, estudo bíblico, cursos catequéticos, aproveitando tantas propostas digitais também da nossa Arquidiocese e do ISTE? Convido todas as comunidades cristãs a aproveitar estes tempos menos activos a apostarem na formação, crescendo para dentro, servindo-se para isso de todos os meios técnicos seguros ou legítimos.

3 – É vontade expressa de Jesus que os seus discípulos estejam no mundo (cf. Mc 16, 15), mas sem se tornarem mundo (cfr Jo 15, 19). Ao meditar nesta exigência de Jesus, Chersterson sonhou com uma Igreja «que não mudasse com o mundo, mas que mudasse o mundo». Ser cristão é ser fermento, luz e sal! Muitas vezes o Papa Francisco tem actualizado esta proposta: «Uma igreja no tempo, mas não mundanizada».

No nosso quotidiano não é possível encontrar as soluções para todos os problemas, porém não é impossível encontrar Deus no meio das dificuldades e experimentarmos que Ele está vivo, permanece connosco, é nosso contemporâneo e está do nosso lado, ajudando-nos a ajudar; Ele envia a sua luz e ilumina as grandes cruzes da humanidade.

Nesta perspectiva, convido-vos a ter presente uma recente mensagem que recebi e convosco partilho: de Roma chegou-nos um forte apelo para uma grande mobilização a favor da tradicional coleta, em Sexta-feira Santa, para a Igreja que testemunha o nome de Cristo na terra por onde Ele viveu a sua existência histórica. Devido ao desaparecimento quase completo das peregrinações e do turismo religioso e com o forte abaixamento do quantitativo da coleta em 2020, apela-nos à nossa generosidade em todas as Celebrações Litúrgica de Sexta-feira Santa.

 Relembro a chamada “Renúncia Quaresmal”, gesto penitencial fortemente ligado à vivência da Quaresma e que este ano se destina aos nossos irmãos em maiores dificuldades, ajudados pela nossa Caritas Diocesana. Que marquemos esta Semana Santa com a generosidade possível.  Mobilizemo-nos fraternalmente e com a criatividade que brota do Amor, para ajudar na resolução das consequências sociais da pandemia Covid 19. A “Renúncia Quaresmal” deve ser entregue no Domingo da Misericórdia, dia 11 de abril.

Com Maria, a Igreja reaprenderá a construir-se sempre como comunidade orante e, simultaneamente fraterna. Ela não se destaca tanto pela palavra proferida com os lábios, mas sobretudo com a palavra pronunciada com a vida. Eis o que há-de acontecer na nossa vida, pois Ela é o paradigma e o ícone da Igreja. Havemos de ser simultaneamente Homens, Mulheres e Jovens de Deus para podermos estar com qualidade ao serviço da Humanidade.

Santa e Luminosa Páscoa para todos!

+Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

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