Ordem dos Médicos alerta para «a inevitável falta de segurança clínica dos doentes e médicos» no hospital de Portalegre

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Na sequência da carta aberta dos médicos de Medicina Interna do Hospital de Portalegre, na qual expõem a «situação insustentável» bem como os problemas que a unidade enfrenta, relatando «excesso de trabalho, exaustão e falta de profissionais», a Sub-região de Portalegre da Ordem dos Médicos confirma «o défice de internistas no Hospital de Portalegre, que se reflecte no excesso de trabalho e exaustão física, que inevitavelmente contribuirão para uma falta de segurança clínica dos doentes e dos médicos», alerta.

Constatando que estas lacunas «fazem-se sentir há vários anos, mas o período de pandemia que atravessámos, e que exigiu imenso de todos os internistas, somado à falta de respostas da tutela, só veio agudizar os problemas», refere a Ordem dos Médicos de Portalegre em comunicado que «tivemos por diversas ocasiões oportunidade de conversar com o Conselho de Administração e Direcção Clínica do Hospital de Portalegre e sabemos que tem sido feito um esforço para colmatar as falhas com a abertura de novos concursos, que não são preenchidos, e por fim, recorrendo à contratação de prestadores externos, a preços cada vez mais elevados», no entanto, «o défice de especialistas no Hospital de Portalegre não se resume à Medicina Interna», garante, justificando que «temos também falta de Ginecologistas, Pediatras, Cardiologistas, Pneumologistas, Intensivistas, Anestesiologistas, Ortopedistas, Gastroenterologistas, Imuno-hemoterapeutas, Imagiologistas, Urologistas, só para citar as mais necessitadas em contexto hospitalar, mas nos cuidados de saúde primários e na saúde pública o défice é igualmente muito preocupante», e sublinha ainda que «o Hospital de Portalegre só sobrevive e mantém a sua capacidade assistencial porque depende em todas as especialidades de prestadores de serviço externos ao Hospital».

A Ordem dos Médicos aplaude e associa-se ao apelo dos colegas de Medicina Interna mas «considera que é necessário estender a discussão do problema do défice de médicos a toda a rede de cuidados do SNS no Distrito de Portalegre, até porque é a única oferta em termos de cuidados de saúde que serve a nossa população».

«Serviço de Urgência está em rotura completa»

De acordo com a Lusa, com 12 subscritores, incluindo diretora do Serviço de Medicina Interna, Isabel Soles, na carta aberta enviada ao Conselho de Administração da ULSNA, os médicos do Hospital de Portalegre relatam que «o Serviço de Urgência está em rotura completa», à qual «se soma uma incapacidade humana da observação e avaliação de todos os doentes internados a cargo da Medicina Interna», e garantem não estarem «asseguradas as condições mínimas de qualidade assistencial, nem de segurança, nem para os profissionais de saúde, nem para os doentes», alertam.

Nesta missiva os médicos referem que têm feito «sucessivos alertas e referências ao não cumprimento dos critérios mínimos de segurança» e dizem que, inclusive, já foram enviados «vários pedidos de escusa de responsabilidade» para a Ordem dos Médicos, alegando não terem obtido qualquer «respostas ou soluções para o problema», motivo pelo qual alertam que «a situação continua a persistir e a agravar-se».

Denunciando ainda outras questões, os subescritores desta carta aberta referem também que, devido ao número reduzido de especialistas no quadro, o Hospital é obrigado a recorrer a «colegas em regime de prestação de serviço e à sobrecarga horária extraordinária de internistas para preencher as escalas».

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) também reagiu à carta do médicos de Medicina Internado Hospital de Portalegre, e em comunicado refere que «tem alertado nos últimos anos para a continua degradação das condições de trabalho no Hospital Doutor José Maria Grande», e que «esta degradação tem vindo a ser cada mais evidente com o aumento da contratação de médicos tarefeiros, diminuição da capacidade de fixação de médicos e contratação de novos médicos com contrato individual de trabalho por tempo indeterminado e pela cada vez maior revolta dos médicos que aí trabalham. Ao longo dos anos foram feitos diversos alertas pelos profissionais médicos relativamente ao incumprimento dos critérios mínimos de segurança plasmados pela entrega de documentos relativos à escusa de responsabilidade», refere o SIM.

O SIM alerta, que se a situação «nefasta» relatada pelos profissionais de saúde na carta aberta continuar e «se se mantiver este ambiente corrosível vivido neste serviço, poderá aumentar ainda mais a saída de médicos deste serviço, a continua incapacidade de fixação dos médicos internos formados nesse serviço, o risco acrescido da perda de idoneidade, o que tornará ainda mais difícil a prestação de cuidados com níveis de segurança aceitáveis tanto para os médicos como para os doentes», constatam.

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