Mensagem de Natal 2023 do Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho

«Sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13,35)

Estimados Presbíteros, Diáconos, Consagrados, Seminaristas, Famílias, Jovens, Cristãos e Cristãs, dirijo-me a vós como Povo Santo de Deus que peregrina por terras do Alentejo e Ribatejo, Arquidiocese de Évora. Neste tempo de Natal, a todos desejo saúde, paz e bem!

1. É surpreendente contemplar a vontade de Deus ao querer compartilhar a nossa humanidade. Compreendemos nesta vontade de Deus de se fazer um connosco que no meio das nossas noites, há uma voz e uma luz, que rompem a espessura da escuridão e nos garantem o conforto da salvação, o Amor de Deus por cada um de nós e por toda a humanidade.

       O desejo de se aproximar desta luz e de a tornar presente no seu quotidiano, levou S. Francisco de Assis a recriar em Greccio, Itália, esse acontecimento em forma de presépio vivo. Segundo a História da Igreja, o primeiro presépio aconteceu há oitocentos anos, em 1223. Sobre ele escreveu S. Boaventura (OFM, 1221-1274), «Três anos antes da morte [S. Francisco] resolveu celebrar com a maior solenidade possível a festa do Nascimento do Menino Jesus, ao pé da povoação de Greccio, a fim de estimular a devoção daquela gente (…). Mandou preparar uma manjedoira com palha, e trazer um boi e um burrito. Convocaram-se muitos Irmãos; vieram inúmeras pessoas; pela floresta ressoaram cânticos alegres… Essa noite venerável revestiu-se de esplendor e solenidade, iluminada por uma infinidade de tochas a arder e ao som de cânticos harmoniosos. O homem de Deus estava de pé diante do presépio, cheio de piedade, banhado em lágrimas e irradiante de alegria. O altar dessa missa foi a manjedoira.

       Francisco, que era diácono, fez a proclamação do Evangelho. Em seguida dirigiu a palavra à assembleia, contando o nascimento do pobre Rei, a quem chamou, com ternura e devoção, o Menino de Belém. (…)»

       Percebemos que o centro vivo desta encenação foi a Eucaristia celebrada sobre a manjedoira. Ali Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, nasceu de novo. Para sempre a luz do presépio se fez uma com a luz do círio pascal, pois o Natal, a Ressurreição Pascal e o Pentecostes são momentos da mesma revelação do Amor de Deus.

2. Este Ano Pastoral 2023/2024 convida-nos a “Revelar juntos um novo rosto de comunidade” e  esta proposta diocesana passa por reconstruirmos cada comunidade, a partir da Eucaristia; de facto, «A Eucaristia é o centro da vida cristã para onde tudo converge e donde tudo dimana. Pela celebração eucarística, o Senhor Jesus renova a sua presença entre nós, “até ao fim dos tempos”». Nesta missão há uma palavra que nos guia, qual estrela de Belém: «por isto conhecerão que sois meus discípulos; se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13,35). Reparamos que Jesus dá à lei do amor fraterno, que não era nova, uma medida nova, Ele próprio, ou seja «… como Eu vos amei (…)». Ele amou-nos, entregando a Sua vida pela redenção de todos. É por isso que com a Eucaristia haveremos de aprender a sermos um com Jesus e a vivermos em sinodalidade, isto é, a caminharmos juntos, percebendo que as diferenças entre nós são riqueza e não estorvo e que os talentos de cada um, postos em comum, fazem acontecer o grande clarão profético da dedicação e do serviço, à maneira de Jesus que nasceu para servir e ser pão de Belém para todos.

3. O Papa Francisco recorda-nos: «Se queremos que seja Natal, o Natal de Jesus e da Paz, voltemos o olhar para Belém e fixemo-lo no rosto do Menino que nasceu para nós! E, naquele rostinho inocente, reconheçamos o das crianças que em todas as partes do mundo anseiam pela paz». É neste olhar, que neste Natal vos convido a rezarmos pela Paz, sem deixarmos que a surdez da guerra nos roube a esperança da possibilidade da Paz, a única viabilidade da racionalidade e da sensatez. Uno-me à esperança de todos e desejo que o dom da Paz nasça em cada coração, em cada família, em cada comunidade, em todos os ambientes humanos, para que seja possível a paz universal.

Sonho Natal com os jovens e com suas famílias, a fim de que possam permanecer em suas terras, sem terem de emigrar. Que possam ficar neste interior tão necessitado de renovação do seu tecido social a partir de novas políticas de desenvolvimento e empreendedorismo geradoras de equilíbrio territorial.

Sonho Natal com toda a população deste Alentejo Central que espera pelo novo Hospital e por um Serviço Nacional de Saúde mais próximo e eficiente. Rezo por todos os profissionais de saúde, técnicos e prestadores de socorro, por todos os que diariamente fazem o milagre de que o impossível se torne possível.

              Sonho Natal com todos os jovens universitários que acreditam que um dia será possível encontrar alojamento em quantidade e qualidade a preços acessíveis. Rezo por todos os que afincadamente tudo fazem pela concretização desta necessidade urgente.

Sonho Natal para todas as Instituições Sociais que diariamente fazem a multiplicação do pão e complementam a missão das famílias no referente às suas crianças, idosos e pessoas com deficiência. Rezo pela coragem, generosidade e abnegação dos que diariamente repartem o carinho e a ternura pelos mais sós e com menos voz.

Sonho Natal para os refugiados, imigrantes e deslocados, que face à partida das suas terras e face à indiferença da família humana, lhes resta o Céu, a solidariedade e o respeito dos que promovem as palavras Paz, Justiça e Amor.

Que seja Natal! Que aconteça Natal! Que façamos Natal!

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

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