Em vez de uma flor…uma bola

Artigo de opinião de Daniel Pina – Presidente da Associação de Futebol de Portalegre

Comemorado a 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher visa celebrar a luta histórica das mulheres pelos seus direitos fundamentais e contra a desigualdade, assinalar as muitas conquistas alcançadas e acima de tudo mostrar que, em pleno século XXI, ainda há muito por fazer. O desporto e, mais especificamente, o futebol e o futsal, têm dado um importante contributo para a igualdade de género na nossa sociedade. O número de jogadoras e de inscrições femininas teve um aumento histórico na última década e o talento apresentado nas nossas quadras e relvados está à vista de todos, mas tão desejado equilíbrio entre homens e mulheres está longe de ser uma realidade.

Na Associação de Futebol de Portalegre acreditamos, apostamos e potenciamos o nosso futebol e o nosso futsal feminino. Com excepção da última época desportiva – pelos motivos que todos conhecemos, nos últimos cinco anos batemos recordes na inscrição de atletas femininos e alcançámos uma percentagem de feminização superior à média nacional.

Iniciámos um projecto inteiramente dedicado à captação de jogadoras para as nossas modalidades – o #SouJogadora, criámos novas selecções de formação e encetámos uma corrida às escolas para sensibilizar professores e alunas para a prática da modalidade. Aproveitamos esses momentos para relatar, muitas vezes na primeira pessoa, o sucesso das nossas guerreiras. E basta olhar para um passado recente para verificar que é no feminino que o futebol/futsal do distrito de Portalegre tem dado “mais cartas”, não só no desempenho desportivo, mas igualmente nos patamares que as nossas atletas atingem. Nos últimos tempos, tivemos o privilégio de ver a Isabel Velez, a Catarina Almeida, a Diana Serafim, a Maria Beatriz Matos e a Mariana Grilo mostrarem a sua qualidade ao serviço dos chamados “clubes grandes” do futebol/futsal nacional, e assistimos com orgulho ao momento em que Inês Peixe e Sofia Liu vestiram pela primeira vez a camisola da Selecção Nacional Portuguesa. São conquistas que, independentemente da qualidade dos nossos jovens e da aposta na formação por parte dos nossos clubes, não assistimos frequentemente no masculino. 

Prioritária para esta Direcção, esta aposta no futebol e no futsal feminino continua a ter um impacto claramente insuficiente face à potencialidade que estas duas modalidades podem ter na nossa região. Acreditamos que podemos ir muito mais longe, que o nosso crescimento pode ser constante e sustentável, e precisamos do apoio de todos os clubes e dirigentes nesta missão.

Infelizmente, e não obstante os apoios e estímulos para a criação de equipas femininas na formação, ainda não foi esta época desportiva que conseguimos iniciar estas provas.

Compreendemos as dificuldades que os nossos clubes enfrentam e não queremos acreditar que a tradição, a cultura e os estereótipos de género continuam a contribuir fortemente para que o desporto seja entendido como uma pertença dos homens. Mas é indispensável que todos os agentes desportivos estejam do nosso lado, criando condições para o acolhimento de jovens jogadoras, visitando as escolas para a captação de atletas e aumentando a proximidade e sensibilização junto dos pais para que estes olhem também para o futebol e o futsal como modalidades femininas.

Em pleno Século XXI, não podemos comemorar o dia 8 de Março e esquecer o seu significado nos restantes dias do ano. Neste Dia da Mulher atrevo-me a dizer que, em vez de uma flor, ofereçam uma bola, pois só um esforço conjunto pode fazer a diferença para que, num futuro próximo, cada vez mais meninas e mulheres possam dizer “Sou Jogadora!”.

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