“A minha cegonha não tem GPS”: A história de Luzia e Tiago e o sonho de serem pais

«Por mais difícil que seja o caminho se não o percorrermos não sabemos qual é o seu destino... assim é o caminho da infertilidade. Continuamos na luta pelo nosso sonho com todas as nossas forças. Divulgamos a nossa história até ao infinito e mais além».

A história de Luzia e Tiago Maia, um casal de Santo António das Areias, poderia ser idêntica a muitas outras histórias de casais que sofrem em silêncio com problemas de infertilidade na luta pelo sonho de serem pais.

O casal está junto há oito anos e tenta há sete uma gravidez que, devido a uma doença genética, não se tem concretizado.

Luzia descobriu ainda criança que era portadora de distrofia miotónica de Steinert, uma doença genética, rara e hereditária. Embora não esteja comprovado que é esta sua condição que a impede de engravidar, a verdade é que tem vindo a dificultar os tratamentos de fertilização, uma vez que um estudo de genética indica que haverá 50 por cento de hipóteses de que a doença possa ser transmitida para o feto.

Apesar de saberem disso, Luzia e Tiago não desistem do sonho de serem pais, e resolveram agir. Decidida a dar voz a sua história, Luzia contactou vários meios de comunicação social, programas de televisão e recorreu a todos os contactos que encontrou a pedir ajuda para contar a sua história.

Em Abril foram recebidos por Manuel Luís Goucha, no Você na TV, onde foram surpreendidos com uma ajuda da clínica Ferticentro, que se ofereceu para tentar resolver o problema e mudar a vida de ambos.

Luzia tem 29 anos e é natural de Santo António das Areias, de onde saiu para prosseguir os estudos. Licenciada em Educação de Infância e Mestre em Professora de 1º de Ciclo, há três anos decidiu regressar às suas origens, para junto da família, mas sem conseguir colocação na sua área resolveu abrir um espaço comercial, o “Cantinho do Miradouro”. Tiago, que também tem 29 anos e vivia no Seixal, é agora bombeiro nos Bombeiros de Marvão.

O casal casou-se há quatro anos, num dia que deveria ser de grande alegria, mas que acabou por ter um sabor agridoce. Luzia sempre desejou poder casar já grávida, e pouco tempo antes do grande dia pensou que iria concretizar o seu desejo. Mas uma gravidez gemelar anembrionária e um aborto a poucos dias do casamento provocaram uma dor inigualável ao casal, que desde então não voltou a conseguir engravidar.

Nesta edição damos a conhecer a história deste casal, pelas palavras de Luzia, que espera inspirar outros casais a contar as suas histórias, a dar voz a esta luta, demonstrando que por muito que lhes seja dito que «ainda há tempo» é preciso correr contra o tempo para que não seja demasiado tarde.

«Passado alguns anos de uma grande e verdadeira batalha com a nossa amiga infertilidade, resolvemos pedir ajuda para divulgar a nossa história e assim podermos ajudar outros casais, mas ao mesmo tempo ver se conseguíamos alguma luz que nos guiasse neste caminho árduo.

Posso começar por caracterizar a cegonha como um pássaro de grande porte, livre, de grande imprevisibilidade e migrante. Isto tudo quer dizer que nunca estão num lugar certo nem onde por vezes querem que elas estejam. Pensei que era rápido que a cegonha fazia ninho na minha barriga. Mas deparei-me com uma cegonha sem GPS, que nunca mais chegava e quando chegou trazia no seu embrulho paciência, tristeza e desilusão.

Um namoro perfeito. Vivia num verdadeiro conto de fadas e nunca escondi ao meu namorado que tinha o sonho de casar grávida. Pensávamos que seria só “pedir” e a nossa cegonha chegava com o nosso bebé… mas começámos a ver que realmente o mundo não era assim tão cor-de-rosa.

Em 2012, passado um ano de estarmos juntos, começámos por ir a uma consulta de genética no Hospital de Santa Maria, para me acompanhar sempre o meu relatório da doença genética Distrofia Miotónica de Steinert da qual sou portadora. Fomos informados de que não havia precauções que pudéssemos tomar para que o nosso bebé não tivesse essa doença, simplesmente podiam, quando estivesse grávida, fazer o diagnóstico pré-natal através da amniocentese ou da biopsia das vilosidades coriónicas. Com todos estes processos e depois de mais alguns exames nem nos demos conta que a infertilidade já tinha entrado nas nossas vidas sem pedir licença, já estava bem acomodada e já fazia parte da família.

Passado dois anos damos conta que ainda nada tinha acontecido. Exames e mais exames, explicação não havia, e a cegonha não chegava, a maldita cegonha não tinha Gps.

Até que no dia 20 de Janeiro de 2015 chegou a nossa tão esperada cegonha. Que felicidade sentimos. Mas quando reparámos bem essa cegonha era diferente das outras, só trazia embrulho, lá dentro não existia bebé. Essa cegonha trouxe uma gravidez gemelar anembrionária que nos fez sofrer muito. E desde aí nunca mais tivemos a visita da nossa amiga cegonha.

Passado tudo isso, em Março, casámos e o nosso amor tornou-se mais forte e com todas as nossas forças continuamos o nosso caminho.

Posteriormente fomos encaminhados pelo médico de família para o apoio à fertilidade em Castelo Branco. Exames e mais exames, e mais uma vez sem explicação, simplesmente não acontecia. Passado um ano de estimulação da ovulação passamos para as inseminações intra-uterinas. Mais uma luz se acendeu. Fizemos quatro e realmente a cegonha tinha mesmo perdido o GPS pois nunca nos visitou.

Perante toda esta situação sofremos muito, odiámos as palavras “infertilidade” e “inexplicável”, porque sem qualquer razão ela roubou o nosso maior sonho. Fomos ao fundo, chorámos, gritámos e mais uma vez ficámos de coração partido.

Uma nova luz voltou a acender-se quando nos informaram que o nosso processo iria para Coimbra para que não sofrêssemos mais e pudéssemos fazer fertilização in vitro. Ficámos de novo muitos felizes, mas com medo da lista de espera que iríamos encontrar. Tudo correu bem demais e fomos chamados para uma consulta em Dezembro de 2018. A médica pediu mais uns exames e marcou nova consulta para Março de 2019, e fomos novamente cheios de esperança que o nosso processo ia já para reunião terapêutica.

Mas mais uma vez a vida nos surpreendeu pela negativa, e a frustração voltou ao ouvirmos a médica dizer que com a doença genética que tenho, e como pode ser transmitida a descendência, o meu processo deveria ter ido encaminhado para o Hospital do Porto, que é o único hospital que faz a escolha dos genes para que o bebé não tenha a minha doença genética.

Sem possibilidade de irmos para o particular o nosso mundo ficou sem chão, pois voltamos para o fim de uma lista de espera. Como é possível numa luta de sete anos que ninguém nos tenha dado essa informação?

Muitas pessoas me dizem que ainda somos novos, que temos tempo, mas todos estes anos de luta inglória mostram-nos que não podemos perder tempo.»

Neste longo caminho da infertilidade que o casal tem percorrido tem conseguido, em cada esperança que renasce, encontrar força para continuar a lutar. Foi isso que aconteceu em Abril, no programa Você na TV, da TVI, quando «sentimos que nos saiu o Euromilhões sem Jogar». É desta forma que descrevem o que sentiram quando receberam a notícia, através do «anjo» chamado Dr. Vladimiro Silva, de que a Clínica Ferticentro, em Coimbra, estava interessada em ajudá-los a concretizar o este sonho. «Um casal que vive durante7 anos acompanhados da infertilidade que mais poderíamos pedir? Nesse dia eu e o meu marido nem acreditávamos tudo parecia surreal», confessa Luzia.

«Pouco tempo depois do programa tivemos a primeira consulta na clínica e demos início a todo um processo de apoio a um casal com infertilidade à procura do tratamento mais adequado.

A Clínica Ferticentro e os seus profissionais são de excelência e sentimos que todos juntos lutamos para o mesmo objectivo: ” Que a nossa cegonha encontre o GPS.”», conta-nos o casal, que se mostra «eternamente» grato por esta oportunidade que lhes foi dada, pois, como assumem, de outra forma não teriam capacidade financeira para recorrerem aos serviços de privados, cujos os custos são bastante elevados.

«Não tenho nada de mal a dizer de qualquer um dos profissionais de saúde com que me cruzei no serviço público durante este processo. Mas acredito que, assim como nós não sabíamos e não fomos informados mais cedo, muitos outros casais podem estar a viver o mesmo, e espero que com a nossa história possamos ajudar alguém, que outros casais percebam que é importante não perder tempo que pode ser precioso», constata, desejando que haja uma melhor informação para quem se encontra nesta situação.

Luzia a Tiago não sabem o que o futuro lhes reserva, mas não se resignaram a esperar ansiosamente pelo que viria a seguir, o seu inconformismo motivou-os a lutar pelo sonho de serem pais, procurando todos os meios possíveis, e em poucos meses conseguiram dar um passo bem maior do que tinham conseguido em sete anos. E com esta oportunidade nasceu uma nova esperança para o jovem casal.

“A Cegonha que não tem GPS”

A Luzia assume-se como uma lutadora, e embora reconheça que muitas vezes lhe faltam as forças, tem conseguido neste longo caminho de incertezas e desilusões encontrar caminhos para novas esperanças. A sua história destacou-se porque foi precisamente isso que Luzia fez, com uma narrativa que podia ser um livro deu a conhecer esta batalha.

E foi também assim que nasceu a “A Cegonha não tem GPS”. Um livro infantil que Luzia idealizou, escreveu, e que conta a história de uma cegonha tendo como pano de fundo o concelho de Marvão, e que Luzia sonha um dia ver publicado.

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