171 milhões para a Barragem do Pisão

A construção da Barragem do Pisão vai ser contemplada com 171 milhões de euros no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, de acordo com o anteprojecto apresentado ontem pelo Governo na Comissão Europeia.

Para além da reserva de água, o projecto contempla a construção de uma central solar flutuante com a capacidade de 150 megawatts, o que já não é novidade, uma vez que tal já estava equacionado, isto para além da possibilidade de vir a produzir energia hídrica.

De acordo com o documento divulgado ontem e a que o Jornal económico teve acesso, a «implementação do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (Barragem do Pisão), permite garantir uma reserva estratégica de água que poderá constituir uma alternativa de abastecimento público e permitir o estabelecimento de novas áreas de regadio», sendo que se pretende ainda «associar a esta intervenção um sistema de resposta integrada exigido por situações de risco, em particular para enfrentar situações de seca extrema e para reduzir a probabilidade de ocorrência de cheias», pode ler-se no documente citado.

No texto da autoria de André Cabrita-Mendes, confirma-se que o projecto envolve a construção de uma central fotovoltaica de 150 megawatts flutuante, com os painéis a ficarem instalados no espelho de água da albufeira, com uma produção útil acima dos 250 gigawatts hora anuais, dados que o nosso jornal já havia referido há vários meses.

Novidade é que a central poderá ser complementada por «um circuito hidroeléctrico reversível com potência instalada significativa, criando também ao nível da energia uma Reserva Estratégica (armazenando energia sob a forma de água na albufeira da barragem do Pisão pronta a entrar na rede através também da produção hidroelétrica)», segundo as conclusões do grupo de trabalho criado pelo Governo para analisar a viabilidade técnico-financeira deste empreendimento.

Reserva estratégica de água

Além da produção de energia, é destaca a sua capacidade como “reserva estratégica de água com capacidade e garantia do abastecimento às populações do Alto Alentejo, utilizando recursos hídricos de uma bacia hidrográfica toda ela em território nacional, o que permite assegurar com uma maior fiabilidade do sistema de abastecimento».

Ao mesmo tempo, é destacado o seu potencial como «aproveitamento turístico, através da diversificação da oferta num território caracterizado pela riqueza ambiental, patrimonial e cultural, na medida em que se prevê, ao nível de pleno armazenamento, uma área inundada de cerca de 7 km2, possibilitando a criação de um espelho de água de dimensões consideráveis e com zonas morfologicamente diferentes com potencial de aproveitamento turístico, lúdico e recreativo, designadamente associado a actividades náuticas. Acresce que a previsível boa qualidade da água e a possibilidade de se ter um envolvimento de floresta mediterrânica potencia a possibilidade de, designadamente, se poder ter pontos/ circuitos de observação da natureza e de avistamento de avifauna», o que todos nós conhecemos.

O mesmo relatório, datado de Junho de 2019 traz outro dado fundamental ao apontar que a Barragem do Pisão será «financeiramente viável, com uma Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) de 4,9 % de 20 anos de operação, um Valor Actualizado Líquido (VAL) para uma taxa de actualização de 4% de 14,7 milhões de euros e um tempo de amortização do investimento para uma taxa de actualização de 4 % de 22 anos, montante que considera apenas os custos totais e as receitas totais».

Destaque para o facto de que o grupo de trabalho propõe a criação de uma «nova entidade pública, em cujo capital participem entidades da Administração Central e da Administração Local, em razão das respectivas atribuições e competências», isto quando se chegou a admitir que, por razões de know how e de eficácia, poderia ser a EDIA a integrar o Pisão.

Esta entidade proposta no estudo ficaria com a «promoção/gestão global do aproveitamento, através da atribuição da concessão da exploração e gestão do referido empreendimento, concessão essa que incluísse as várias vertentes do mesmo ou deixando de parte a central solar fotovoltaica para ser desenvolvida por um promotor terceiro».

Como também estava já previsto e é defendido, de entre outros pelo deputado Luís Testa, esta barragem também poderá garantir a possibilidade de introdução de «novas culturas mediterrânicas adaptadas ao clima, aplicando as técnicas da rega de precisão, bem como a criação de novas agro-indústrias a partir das produções agrícolas e pecuárias».

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